EDITORIAL

Do jornalismo ideal ao jornalismo possível

Respondendo ao repto lançado na última edição pelo nosso dedicado colaborador e querido amigo Carlos Albino, que como ele próprio lembra, não é novo, estamos completamente recetivos à ideia e prometemos levá-la à prática.

Efetivamente, de um modo geral, o que jornais costumam fazer, incluindo o nosso, é limitarem-se a reproduzir, de quando em quando, as notas de imprensa que os nosso deputados nos fazem chegar, em vez de ser o jornal, como mandam as regras do verdadeiro jornalismo a ir em busca da notícia. Aliás, caro Carlos Albino, como sabes, isto não acontece apenas com as matérias parlamentares, mas também com as notas de imprensa que, em catadupa, as autarquias e muitas outras entidades públicas e privadas fazem chegar diariamente às redações dos jornais.

O Jornal do Algarve, como certamente outros órgãos regionais, tem perfeita consciência que os conteúdos de um jornal têm que ir muito para além da mera reprodução dessas notas e, por isso, luta contra essa tendência instalada. Mas, infelizmente, a cada vez maior quebra de receitas publicitárias, que não é apenas um reflexo da crise económica que vivemos, mas também, e muito, das políticas que têm vindo a estrangular a comunicação social regional, ignorando o seu importante papel de serviço público, de reforço dos laços da nossa região com a comunidade algarvia espalhada pelo país e pelo mundo e de valorização da língua e da cultura portuguesas, não nos permite concretizar esse desiderato.

O que significa que à nossa vontade de fazer, de uma forma sistemática, esse jornalismo de pesquisa e tratamento da informação, se sobrepõem a falta desses apoios que se refletem, naturalmente, em sérias dificuldades materiais e humanas para fazer esse trabalho. Ainda assim, fazemos o suficiente para que o Jornal do Algarve continue a ser uma referência no panorama da imprensa regional, através de um jornalismo sério, rigoroso e responsável.

Já o temos dito repetidas vezes e voltamos a reafirmá-lo hoje, uma Região como o Algarve ou melhor muitos dos que, quer sejam empresas, instituições ou particulares têm defendido a autonomia administrativa do Algarve como um fator de progresso, acabam, contraditoriamente, por voltar as costas àquilo que o Algarve tem de melhor, preferindo o que vem de fora. E isto acontece com os nossos artistas, com os nossos poetas, com os nossos escritores, com os nossos produtos e, obviamente, também com os nossos jornais.

Muitas das empresas sediadas no Algarve, da agricultura às pescas, passando pelo ensino, pela saúde ou pela indústria, apenas querem que os jornais sirvam, de forma gratuita, de veículos informativos para a sua promoção, negando quase sempre e em qualquer circunstância, investir um cêntimo que seja em publicidade. E verdade seja dita, salvo uma ou outra exceção, não fora o apoio publicitário das autarquias locais e a imprensa algarvia estaria hoje reduzida a zero.

Para não falarmos também da falta de compreensão de muitos dos nossos assinantes, que persistem em não compreender que para receberem o Jornal do Algarve semanalmente em suas casas, temos que pagar 60% do custo desse envio, pontualmente, aos CTT.

Esta é a realidade, nua e crua, amigo Carlos Albino. No entanto, seja como for, vamos tentar abraçar o teu desafio, no quadro destas limitações que, como sabes – já temos falado muito sobre elas – são muitas.

 

Fernando Reis

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1 COMENTÁRIO

  1. Não pergunteis por quem rufam os tambores, relativamente ao estragulamento da imprensa regional algarvia, porque eles rufam pelo silenciamento e receios de aleivosias que alguma originalidade daí possa advir.
    O silenciamento é a sedação ideal para que as opiniões a propósito se tornem incómodas à macrocefalia terreiropaçense.
    E assim, nesse caldo gorduroso em lume brando marinando, vão-se dissipando os temperos de uma futura Região que nos proporcionaria “autonomia administrativa”.

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