25 mil enfermeiros precisam-se

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Os profissionais de saúde existem para salvar vidas, não para as ver morrer, alerta Germano Couto. Pelas contas do bastonário da Ordem dos Enfermeiros e do Conselho Internacional de Enfermeiros (CIE), Portugal precisa de mais 25 mil profissionais do setor, reivindicação que mantém em greve até esta quinta mais de 70% dos enfermeiros do Centro Hospitalar do Alto Ave.

“Não colmatar esta carência significa ter uma população mais vulnerável à doença e à morte”, alertou Judith Shamian, presidente do CIE, numa reunião quatro dias antes da greve dos enfermeiros do IPO do Porto e do Centro Hospitalar do Alto Ave.

No encontro com Germano Couto, Bastonário da Ordem dos Enfermeiros, Shamian referiu que se o Ministério da Saúde quer defender a saúde da população e investir no futuro do país “é imperativo que as unidades de saúde implementem um planeamento de recursos humanos com base nas necessidades da população, a começar na vertente preventiva e de promoção da saúde”.

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Germano Couto refere ser urgente colocar no terreno a norma para dotação de cálculo de cuidados de enfermagem, aprovada em maio pela Ordem, fórmula que permitiu inferir a carência de mais 25 mil enfermeiros nos setores público, privado e social em todo o país.

De acordo com Germano Couto, a norma estabelece que os blocos operatórios só podem funcionar com três enfermeiros por sala ou que os enfermeiros de família devem ter 1550 utentes ou 350 famílias, “relação que está longe de ser praticada em Portugal e mais longe ainda dos rácios recomendados pela OCDE – 6.3 enfermeiros por cada mil habitantes, cerca de 9.5 no nosso caso”.

A norma já foi dada a conhecer ao Governo, mas a Ordem não obteve qualquer “resposta positiva” até ao momento, apesar de o cálculo de necessidades ao nível da enfermagem ter tido ainda por base o sistema de classificação de doentes por grau de dependência, do próprio Ministério da Saúde e instituído em 50 hospitais de referência do país, diz o bastonário.

Dos contactos que tem mantido com todas as centros regionais da Ordem, Germano Couto assegura que “não há enfermeiros, nem de perto”, para fornecer os cuidados de saúde necessários. “É uma evidência que existe uma relação direta entre o número de enfermeiros adequados e menores níveis de doença e mortalidade”.

Ordem contra “contas a metro”

Germano Couto cita um recente estudo do Karolinska Institut – envolvendo nove países europeus, 500.000 doentes cirúrgicos e 26.000 enfermeiros – que conclui que o aumento de um doente na carga de trabalho dos enfermeiros além do considerado adequado “aumenta em 7% a probabilidade do paciente hospitalizado morrer no prazo de 30 dias a contar da admissão”.

Para o líder da Ordem, o Governo está “a hipotecar a saúde dos cidadãos”, dos doentes e da economia ao encarecer o sistema de saúde. “Por cada dia que um paciente fica hospitalizado porque contraiu uma úlcera de pressão por falta de cuidados de enfermagem, o Estado paga 300 a 400 euros, que é quanto custa uma cama de hospital”, dá como exemplo Germano Couto, que lembra que as contas devem ser ponderadas e “não feitas a metro”.

A “exaustação e exploração” foram as principais razões que levaram, esta terça-feira, a uma adesão à greve de 100% dos enfermeiros do IPO do Porto nos serviços de internamento e de 80% nos serviços de cirurgia.

Em todos os serviços, “mesmo os enfermeiros que aderiram à greve prestaram os serviços mínimos, dos cuidados paliativos aos de pediatria”, referiu ao Expresso Fátima Monteiro, presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP).

Fátima Monteiro afirma que no IPO do Porto, como em quase todos os estabelecimentos de saúde do país, os enfermeiros estão “em sobrecarga e muito perto do caos”.

Só este ano deixaram o IPO do Porto 36 enfermeiros por rescisão contratual ou por reforma, diz a líder sindical, situação que face às férias e baixas por doença obriga quem está ao serviço “a turnos que já chegaram ás 18 horas consecutivas”. Além da segurança e do bem-estar dos doentes, “é a própria saúde “dos profissionais que começa a estar em risco”.

No Centro Hospitalar do Alto Ave, nas unidades de Guimarães e Fafe, no primeiro dia de greve registou-se uma paralisação dos enfermeiros na ordem dos 73% no turno da manhã, 70% à tarde e 80% à noite.

Tal como no IPO, os serviços mínimos foram assegurados, em alguns casos por enfermeiros que aderiram à greve. De acordo com Guadalupe Simões, da direção do Sindicato, o Centro Hospitalar do Alto Ave conta com um quadro de 600 enfermeiros, mas só nos serviços de cirurgia, medicina e ortopedia a carência é de 100 enfermeiros.

RE

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