300 assassínios em dois meses em São Paulo

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Confrontos entre traficantes de drogas e agentes da polícia responsáveis pelo aumento da violência em São Paulo

Nos últimos dois meses disparou o número de homicídios em São Paulo. Onda de violência ligada ao narcotráfico está a assustar a população da cidade mais habitada do Brasil

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A onda de violência que se intensificou nas últimas semanas no maior estado do Brasil está a chamar a atenção da imprensa internacional. Em apenas dois meses, mais de 300 pessoas foram assassinadas na periferia da cidade de São Paulo.

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Nos últimos vinte dias houve mais de duzentas mortes violentas, ocorridas após confrontos entre polícia e narcotraficantes, assaltos, execuções sumárias ou na sequência de balas perdidas. E muitos autocarros foram também incendiados.

Esta manhã, foi a enterrar o corpo da promotora de eventos Luciene Neves, 24 anos, morta numa chacina na noite de quarta-feira na zona sul de São Paulo. A jovem estava num bar quando o assassino passou numa moto, disparou indiscriminadamente e atingiu seis pessoas. Dois homens também acabaram por morrer.

“Vivemos um clima de extrema insegurança, de medo”, diz o bispo auxiliar de São Paulo, Milton Kená Júnior, citado pelo “El País”. Segundo o jornal espanhol, o crescente aumento da violência levou os parócos da periferia da cidade a recomendarem aos fiéis: “Evitem sair de casa a partir das quatro da tarde, e se saírem não o façam sozinhos, levem o BI consigo e evitem aglomerações”.

Confrontos entre polícias e narcotraficantes

De acordo com uma reportagem publicada na edição desta semana da revista “Veja”, “o confronto entre o PCC ( Primeiro Comando da Capital, organização criminosa nascida em defesa dos direitos dos presos e que controla o narcotráfico em São Paulo) e a polícia fez o número de mortes em São Paulo subir nos últimos meses, só que nem tudo pode ser debitado nessa conta. A população está assustada, mas a violência nem de longe se compara à de uma década atrás”.

Os autores da reportagem dizem ainda que “durante todo o ano de 1999, um paulistano era assassinado a cada hora e meia. Foi o auge da barbárie na cidade, mas a rotina das pessoas não se alterava”.

Segundo a “Veja”, a criminalidade aumentou muito. Em outubro houve 149 assassínios, quase o dobro dos 78 no mesmo período de 2011. “Ainda assim, isso significa uma morte a cada cinco horas – um número muito mais baixo do que o de há dez anos”.

Por trás das mortes não está só o PCC mas também agentes da Polícia Milita. Fala-se mesmo numa guerra entre ambas as organizações, com muitas vítimas colaterais. Por cada criminoso assassinado pela Polícia Militar, os líderes do Primeiro Comando da Capital ordenam a execução de dois polícias.

Nos últimos dias, 93 agentes policiais foram mortos e a maioria não estava em serviço, pelo que os indícios apontam para assassínios por encomenda. As autoridades acreditam que os líderes dos grupos de traficantes de drogas comandam, a partir das prisões, os ataques contra os agentes.

Mais de 1000 mortes violentas até setembro

Em conferência de imprensa realizada ontem em Brasília, o governador de São Paulo assegurou que o aumento da violência nos últimos dias é “momentáneo, é uma fase de enfrentamento do tráfico de droga e armas, mas é transitório”. Geraldo Alkimin disse confiar no novo secretário de segurança pública, Fernando Grella Vieira, que assumira o cargo pela manhã.

“Essa é uma luta longa, permanente, 24 horas por dia. (…) São Paulo conquistou ao longo dos últimos 12 anos os melhores indicadores do país em termos de criminalidade. Temos 10,5 homicídios por 1000 habitantes, enquanto o Brasil tem 23”, acrescentou ainda o governador.

Entre janeiro e setembro, segundo dados da secretaria regional de Segurança Pública, foram assassinados 982 civis, 22% mais do que em idêntico período no ano passado. Do total, 41 foram vítimas em 13 chacinas.

As autoridades estaduais apontam setembro como o mês mais violento, com pelo menos 135 mortes na capital, o que representa um aumento de 96% em comparação com o mesmo mês do ano passado. A violência expandiu-se por toda a região metropolitana, registando-se 428 homicídios naquele mês.

Brasília anuncia ação conjunta de combate à violência

Os jornais “Folha de São Paulo” e “Estadão” referem também que na última noite e madrugada pelo menos três pessoas foram mortas e sete ficaram feridas em ataques.

Na passada terça-feira, o Governo de Dilma Rousseff e o governador de São Paulo, Geraldo Alkimin, anunciaram uma estratégia conjunta, para acabar com a onda de violência. Entre outras medidas, foi criada uma agência para coordenar o trabalho das forças estaduais e federais, e anunciada a formação de um comité interdisciplinar para avaliar as ações já a partir da próxima semana.

O plano oficial prevê o aumento da vigilância contra o tráfico de drogas em aeroportos, portos e estradas que ligam São Paulo às regiões de fronteira por onde chega a droga. Outra medida aprovada foi a transferência dos presos envolvidos no assassínio de polícias para prisões federais de segurança máxima.

Recorde-se que uma ordem semelhante, em maio de 2006, de transferir para prisões federais os chefes da PCC, suscitou uma onja de violência que acabou em 300 assassínios, graves distúrbios na cidade de São Paulo e rebeliões na maior parte das prisões do estado.

Maria Luiza Rolim (Rede Expresso)

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