Sociedade civil é pouco atuante e os poderes políticos são influenciados por “setores corporativos”, como o da Justiça, lamenta o ex-Presidente, Jorge Sampaio, numa entrevista à Antena 1.
O ex-Presidente da República Jorge Sampaio diz-se “nada satisfeito com a qualidade da democracia” em Portugal, onde a sociedade civil é “pouco atuante” e os poderes políticos são influenciados por “setores corporativos”, como o da Justiça.
“Não estou nada satisfeito com a qualidade da democracia, temos que a requalificar, revitalizar. A começ
ar pela renovação das dinâmicas e das estruturas partidárias. E há uma remobilização dos cidadãos que é neces
sária”, sustenta, em entrevista à rádio Antena 1, a primeira de uma série de três a antigos Presidentes da República do pós-25 de Abril, cujo aniversário se assinala no domingo.
Na entrevista, transmitida na íntegra hoje às 10h00, Jorge Sampaio elogia o “estilo” do novo líder do PSD, alerta para os “perigos” da politização da justiça e da judicialização da política e defende a “diminuição” do segredo de Justiça e a manutenção da Constituição.
Quanto ao apoio à candidatura presidencial do socialista Manuel Alegre, o ex-secretário geral do PS garante que “isso é uma coisa” que dirá “primeiro” ao próprio, antes que “a toda a gente”, mas deixa um recado: “O PS terá que se definir.” Questionado sobre de quem é a culpa pelo estado da democracia em Portugal, Jorge Sampaio responde: “Somos todos
naturalmente responsáveis.” Para o antigo Presidente, é necessário que “os poderes políticos saibam resistir, pela seriedade das suas propostas, àquilo que são as profundas influências de setores corporativos da sociedade portuguesa”. E nomeia médicos, juízes, magistrados do Ministério Público, enfermeiros e funcionários públicos.
Evitas a “promiscuidade”
“Temos que saber que, quando estamos no Governo e na oposição, há um limite para satisfazer determinadas reivindicações e não se pode jogar a favor das reivindicações quando se está na oposição e contra quando se está no Governo”, advoga, entendendo ser “absolutamente essencial” evitar a “promiscuidade” entre os setores económico e político.
O antigo Presidente da República (1996-2006) defende a “diminuição do segredo de justiça” e aponta farpas à comunicação social que “arruína a reputação de uma pessoa”.
“Apregoamos o princípio violando-o todos os dias e isso parece-me muito grave para a coesão social”, sustenta.
Poderes presidenciais “suficientes”
Sobre os poderes presidenciais, considera-os “suficientes” e diz que a revisão constitucional “não é uma prioridade”. “Gosto pouco de estar constantemente a aperfeiçoar a Constituição”, diz.
O ex-secretário geral do PS elogia ainda o “estilo” do novo líder do PSD, Pedro Passos Coelho, que “pode contribuir para a descrispação da vida política em Portugal” e para “um debate político sério, sem demagogias”.
Ramalho Eanes e Mário Soares são os próximos entrevistados da Antena 1, quinta e sexta feiras, respetivamente.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***