Dissidente Guillermo Farinas termina greve de fome

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O ciberjornalista Guillermo Farinas, após concluir a sua greve da fome e sede de 135 dias, declarou-se positivamente surpreendido pelo anúncio da libertação de 52 presos políticos cubanos e recomendou que se concedesse ao governo de Raul Castro o benefício da dúvida. Farinas começara por manifestar reservas sobre o anúncio, mas aparentemente mudara de atitude ao verificar que estavam em curso as primeiras cinco libertações.

O jornalista cubano Guillermo Farinas, após concluir a greve da fome. EPA Alejandro Ernesto

Segundo a agência France Press, Farinas declarou ontem à noite à rádio ser “o primeiro [a sentir-se] surpreendido” e acrescentou que “é preciso dar ao governo uma margem de credibilidade para que ele liberte os 52 presos”.

Farinas explicou ainda o final da sua greve de fome com o propósito de “deixar as mãos livres àqueles que negoceiam com o governo cubano” e declarou que “não queremos exercer nenhum tipo de pressão porque o nosso interesse é que os nossos irmãos sejam libertados, em Cuba e fora de Cuba”

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Greves de fome e negociações

O ciberjornalista fizera anteriormente vários jejuns para protestar contra a situação dos presos políticos resultantes de uma vaga repressiva da Primavera de 2003 e condenados a penas que em alguns casos chegavam aos 28 anos de prisão. Em Fevereiro, com a morte, também em greve de fome, de um desses presos, Orlando Zapata, Farinas subira a parada e tomara a decisão de lançar uma greve de fome e de sede que só terminaria com a libertação dos presos políticos ou com a sua morte.

A vaga de libertações que agora se encontra no horizonte dá seguimento a acordos mais limitados que o governo de Raul Castro alcançara com o cardeal Ortega, em Maio passado. Nesse momento, tratara-se apenas de libertar o preso Ariel Sigler Amaya, que se encontrava paraplégico em consequência de maus tratos sofridos na cadeia. Com o cardeal, fôra também assumido o compromisso de transferir uma dezena de presos para cadeias próximas dos locais de residência das suas famílias.

As 52 libertações agora prometidas resultam do prosseguimento de negociações com a Igreja católica, e também da circunstância criada pela visita a La Havana do chefe da diplomacia espanhola, Miguel Ángel Moratinos. O ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros emitiu depois declarações favoráveis a uma normalização das relações entre os países da União Europeia e Cuba.

A vaga de libertações actual não tem, em termos meramente quantitativos, medida comum com as duas mais importantes ocorridas nos últimos anos. Em 1979, Fidel Castro tinha ordenado a libertação de 3.600 presos após um encontro com representantes da oposição. Em 1998, ordenara a libertação de uma centena de presos por ocasião da visita do papa João Paulo II.

Aplausos e reservas

No entanto, as 52 libertações agora decididas inscrevem-se num panorama de redução substancial dos números de presos considerados de consciência. A Amnistia Internacional calcula esse número em 63. A porta-voz das “damas de branco”, mães e esposas de presos, Laura Pollan, declarou-se positivamente surpreendida pelas libertações anunciadas, porque, segundo a agência France Press, apenas contava com dez a quinze.

As reservas manifestadas vieram principalmente da própria Amnistia Internacional e da secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton, ambas no sentido de criticarem o faseamento das libertações ao longo de três meses.

O dirigente da oposição cubana Elizardo Sánchez, citado no diário espanhol El Pais, comentou a este respeito que “Moratinos não viria a Cuba para regressar a Madrid de mãos vazias. Mas o que está a fazer o governo cubano é utilizar interlocutores que escolheu previamente – e que sem dúvida têm a melhor boa vontade -, mas isso não significa que vá melhorar a situação dos direitos humanos em Cuba”.

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