Graça Lopes, de 80 anos, é uma benemérita reconhecida em Alvor, depois de uma vida dedicada a ajudar os mais necessitados. Ela e o marido, que faleceu recentemente, estiveram ligados quase 50 anos à misericórdia local. E foi graças à sua generosidade e “alegria de dar” que a Santa Casa pode, ainda hoje, acorrer às carências de muitas pessoas
Na pacata vila de Alvor, no concelho de Portimão, toda a gente já ouviu falar dos gestos de altruísmo do casal Lopes. O professor José Pereira Lopes foi provedor da Santa Casa da Misericórdia durante 47 anos, tendo assumido o cargo em 1969, quando o património da instituição resumia-se a uma igreja e os seus anexos… em ruínas!
O antigo provedor e a mulher, Graça Lopes, que também foi tesoureira da misericórdia, iniciaram uma caminhada de desenvolvimento e esperança no campo social, que continua até aos dias de hoje, apesar de já não ocuparem cargos na instituição.
Atualmente, a misericórdia já conta com inúmeras valências, que vão desde o apoio domiciliário à creche para crianças, passando pelo lar de idosos, centro de dia e centro de convívio. E tudo graças ao facto de, todos os anos, alguns beneméritos confiarem os seus bens, em vida ou depois da sua morte, à Santa Casa da Misericórdia de Alvor.
Entretanto, José Pereira Lopes faleceu recentemente, no passado dia 7 de fevereiro, poucas semanas após deixar o cargo de provedor da misericórdia de Alvor. Mas a sua mulher continua decidida a ajudar quem precisa como pode.
“Uma semana após a morte do meu marido, peguei num cheque de 41 mil euros e entreguei-o à misericórdia, porque eles precisam de uma nova carrinha para transportar os idosos doentes”, refere Graça Lopes, mostrando ao Jornal do Algarve os vários diplomas de mérito que o marido recebeu pelos serviços prestados à frente dos destinos da Santa Casa da Misericórdia de Alvor, incluindo um do antigo Presidente da República, Cavaco Silva.
Esta antiga funcionária dos CTT, que é uma orgulhosa benemérita de Alvor, frisa que não tem descendentes, pelo que considera a doação de bens e dinheiro à misericórdia uma atitude “natural” que lhe dá “alegria”. “Não tenho filhos, nem irmãos, nem primos, nem ninguém. Por isso, prefiro deixar um pouco de esperança na minha terra”, salienta.
Doações são cruciais para manter as obras sociais
Graça Lopes explica ao JA que o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Alvor tem sido fundamental para muitas famílias, especialmente nos anos de maior crise. Mas como os apoios estatais “não são suficientes”, a octogenária sublinha que as doações de pessoas particulares e empresas são cruciais para assegurar as condições para se cumprirem as obras da instituição.
“Ao longo das últimas décadas houve vários beneméritos que contribuíram para concretizar esses ideais, doando bens e dinheiro. Foi graças à generosidade dessas pessoas que a Santa Casa pode, ainda hoje, acorrer às carências de muitas famílias”, acentua.
Tal como Graça Lopes, a maioria dos beneméritos são senhoras já com uma certa idade, viúvas e sem descendentes. Mas também há casos de pessoas que têm filhos e, mesmo assim, optam por deixar as suas heranças e poupanças de uma vida à misericórdia. “Hoje em dia, alguns filhos não querem chatices, põem os idosos em lares e depois nem sequer os visitam, nem querem saber mais deles”, afirma a benemérita de Alvor, frisando que essas pessoas encontram na misericórdia “um local acolhedor, onde podem viver os seus últimos dias com dignidade”. Para além de todos os serviços que a Santa Casa oferece aos mais necessitados – desde a alimentação e limpeza, passando pela higiene e a roupa –, a instituição conta ainda com um médico e uma enfermeira, garantindo assim cuidados de saúde aos idosos e crianças…
(REPORTAGEM COMPLETA NA ÚLTIMA EDIÇÃO DO JORNAL DO ALGARVE – DIA 6 DE ABRIL)
Nuno Couto | Jornal do Algarve