A minha homenagem ao meu MANO VELHO, Fernando Reis

Faz hoje, dia 13 de Maio, 161 dia que partiste, mas nunca partirás…

Exmo. Senhor Dr. Álvaro Araújo, presidente da CM de Vila Real de Santo António.
Exma. Senhora Dr.ª Célia Paz, Presidente da Assembleia Municipal
Exma. Senhora Dr.ª Conceição Pires, Vereadora da Educação e Cultura
Exmas. Autoridades civis, militares e religiosas.
Exmo. Senhor Eng.º António José, antigo presidente da Câmara Municipal de VRSA.
Exmo. Senhor Dr. Francisco Leal, presidente da Câmara Municipal de Castro Marim
Familiares e amigos dos anteriores homenageados: Alfredo Graça e Dr. Jorge Dourado…
Normalmente, quando chegamos a este local, de onde agora vos falamos, e para se homenagear alguém, sentimos que estamos num lugar de sonho.
Mas estou aqui, para falar de alguém, que já não está entre nós, logo, este púlpito de onde vos falo, é um lugar de dor. De pesadelo. E se calhar não era eu que mereceria estar aqui…
Por isso, quem deveria para estar aqui a falar do Fernando Reis, do meu MANO VELHO, era o nosso comum e saudoso amigo António Rosa Mendes, mas ele já não está cá.
Quem era para estar aqui, era o José Cruz, mas ele estando ali, não pode estar aqui.
Quem era para estar aqui a falar do Fernando Reis, eram a Luísa Travassos e o José Travassos, mas como eles estão ali, sou eu, que tenho que estar neste púlpito, num misto de dor, de revolta, de ansiedade, mas de inequívoco orgulho.
Obrigado por se terem lembrado de mim…
Antes de COMEÇAR A MINHA INTERVENÇÃO, SOBRE O QUE ME TROUXE AQUI, PERMITAM-ME, QUE DEIXE TODA a minha gratidão ao Senhor Presidente da Câmara, Dr. Álvaro Araújo e a todo o seu executivo.
Caro Presidente, a sua actividade profissional, antes de ser eleito, além de Professor, era em parte a grande voz dos mais necessitados, isto é, dos desempregados… Não deixe que VRSA, a minha terra, agora também a sua terra, a sua gente, as suas freguesias, as populações mais vulneráveis, caiam no pessimismo, na assombração, que tanto tem marcado a VIDA DO CONCELHO, o qual tem que começar a ser tratado, não como pertença de uma província espanhola, mas do Algarve.
Que olhem para nós, não com paixão, MAS COM A LONGA DIVIDA, CONSTRUIDA NO DEVE E HAVER, ONDE COM A SUA EQUIPA E COM TODAS AS FORÇAS POLÍTICAS, terá que LUTAR PARA QUE VRSA REGRESSE AOS PADRÕES DE OUTRORA.
TEM GENTE NOS MAIORES E MAIS RICOS CONCELHOS DO ALGARVE A PASSAR FOME… SEM PÃO, NEM CHETA, NEM TRABALHO, LOGO ACREDITO, ACREDITAMOS, QUE ESTE DRAMA, AQUI TAMBÉM SOBREVIVE. E É PRECISO COMBATÊ-LO, E QUE OS GOVERNANTES OLHEM PARA NÓS, COM O DEVER DO COMPROMISSO… E DA RESPONSABILIDADE, porque ninguém se alimenta de palavras.
Mas hoje, estou aqui NO CENTRO CULTURAL ANTÓNIO ALEIXO, com a emoção a pingar lágrimas, num acontecimento, que nunca pensei que viesse a testemunhar e a participar, ou seja, falar a título póstumo sobre o meu amigo Fernando Reis, o meu MANO VELHO…
Situação que me emociona. Nos emociona, e que nos cilindra a mente como um indescritível rolo compressor, porque, REPITO, estou aqui para vos falar de Fernando Reis.
Do Dr. Fernando Reis, // do Professor Fernando Reis, // do Jornalista e Historiador Fernando Reis. // Do esposo, do pai, do irmão, do tio, do amigo para sempre.
Para vos falar de Fernando Reis, Director do Jornal do Algarve. // Do Romântico Fernando Reis. Do contestatário Fernando Reis
Mas enganam-se aqueles que pensam, imaginam ou sonham, que eu vim aqui falar destas coisas todas, que foi o Fernando Reis.
Que foi, não! que continua a ser, porque como diz o poema, com que fecharei esta intervenção – ele continua a habitar em nós.
Claro que estou na dúvida, se devo ou não falar do Fernando Reis, porque Se eu falar dele, vou repetir tudo aquilo que todos sabem sobre ele E NUNCA MAIS SAIREMOS DAQUI…
Que foi músico nas garagens da vida e nalguns palcos; que jogou futebol. Aliás, ele, o Jacques, o José Travassos, amigo/irmão e cunhado, o João Peres, e tantos outros, um dia me humilharam em Vila Real de Santo António, no velho campo Francisco Gomes Socorro, quando éramos então, imaginem, o treinador dos juvenis do Portimonense, porque nessa manhã fui esmado por um resultado, que já NÃO se usava, e ainda por cima, ter que ouvir, o som dos batuques da claque do Lusitano: – Moço, Neto! a tua equipa não vale nada…
Se eu falar do professor de história. Do professor e amigo, tudo o que eu narrar ou lavrar, todos quantos lidaram com ele, bem conhecem…
Se eu vos falar do historiador, do homem preocupado com o património cultural e artístico, com as origens mais profundas da vila/ hoje cidade, não é nada que não sabeis…
Se eu vos falar, do jovem estudante, que entrava na automotora rumo a Faro, ao liceu de Faro e vice-versa, AFINAL PELA MESMA LINHA DA CP, AGORA COM OUTRO NOME, QUE TEM MAIS DE UM SÉCULO DE HISTÓRIA, …mas que ninguém tem coragem de electrificar com medo que o comboio só pare no rio Guadiana, LEVANDO todas as lições na ponta da língua, até lições conspirativas contra um ESTADO NOVO trágico, esforçado e abnegado, para nos esmagar, transmitir a dor e o sofrimento, são coisas que todos vós sabeis.
Se eu vos falar, do homem e pai. Do esposo, e do filho que foi, todos que aqui me escutais conheceis bem…Então VIM AQUI falar de quem.
Vim falar do homem. VIM FALAR DO MEU QUERIDO AMIGO FERNANDO REIS. DO meu MANO VELHO.
Do Fernando Reis, que a primeira vez que se cruzou comigo, AINDA MENINO, com POUCO MAIS DE 14 ANOS, FOI EM PORTIMÃO, quando ali estudava no Liceu, em pleno cenário da Casa Inglesa, disparou: Boa tarde senhor Neto Gomes.
Depois, como diria o Zé Aranha, fomos levadas pela uma aguagem favorável, até ao derradeiro dia de 4 de Dezembro de 2021.
Que fizemos viagens fabulosas, um pouco por alguns lugares do mundo, mas mesmo assim, MESMO LONGE E DE FÉRIAS, nunca deixamos de dar vida ao Jornal do Algarve. Na Baía, em PIPA, em Natal, em Fortaleza, na República Dominicana. Aliás, em Santo Domingo, por culpa das olivas, pagámos o mais caro almoço das nossas vidas.
Estou aqui para vos falar de um ser humano fantástico,.
De um homem singular, com uma enorme paixão pelos outros e incansável, na gratidão com que reconhecia os que estavam a seu lado.
Fernando Reis foi sempre um homem sábio, sóbrio, discreto, inteligente. UM HOMEM FORMIDÁVEL. FOI O PAI DE TODA A SUA FAMÍLIA
Um homem democrata, porque nunca deixou de se reconhecer como um SER HUMANO, saído da incubadora, da política séria, transparente, leal, e ASSOCIANDO-SE EM TODOS OS MOMENTOS, NA AJUDA AOS MAIS FRÁGEIS.
Um homem, que nunca se deixou vacilar pela hipocrisia, pelos ódios. Sim, enquanto existirem dois homens, fumegarão para sempre, as chaminés das fábricas do ódio.
Todos nós que aqui andamos, NESTA INGLÓRIA JANGADA DE PEDRA, QUE FAZ QUE ANDA MAS NÃO ANDA…SENTIMOS, que este é o momento de nos sentirmos gratos à CM de VRSA… por este gesto, este sinal de homenagem, e que andamos, nunca grande lufa-lufa, ao longo de quase toda a vida, sobretudo pelas pessoas que conhecemos, que foi gente da nossa Infância, como Alfredo Graça, ainda era meu parente, o Zé Cruz e mesmo o Fernando Reis,
Que de ontem para hoje, passámos a integrar a figura do soldado desconhecido, em cujo monumento as pombas vêm poisar.
Soldados desconhecidos de um exército de nada. De gente que se foi evaporando, no conceito de vida, e que agora, não passa de ser apenas lembrado pela família e pelos amigos mais chegados…É QUE VAI SER ASSIM, O DIA SEGUINTE DE TODOS NÓS… NÓS SOMOS A VIDA E A MORTE.
O mundo é tão cruel, que levamos a vida, como se diz aqui na minha terra, a CHARINGAR UNS AOS OUTROS, só por causa de um lugar, que será sempre como a vida, um lugar de passagem.
Querido Fernando Reis.
Pediram-me dez minutos. Olha onde eu já vou…
Claro que não receio que me fecham o microfone, porque ainda tenho voz suficiente, para alinhavar mais quatro ou cinco minutos…
Amigo. Mano Velho.
Os derradeiros momentos da tua vida, forma para mim a dor maior e o sofrimento mais intenso, que vivi.
Acompanhei de perto, não direi minuto a minuto, mas hora a hora, o teu drama, a tua dor, os teus sofrimentos.
A dor, o drama, o sofrimento da LUÍSA, DA SUSANA E DA MARTA.
O SOFRIMENTO DAS TUAS IRMÃS/Irmão, Filomena, Lena, Anita e Rúben…
DE TODOS OS FAMILIARES E AMIGOS. O sofrimento do MANO ZÉ EDUARDO, O ZÉ TRAVASSOS, DA AMÉLIA…
Acompanhei os teus altos e baixos de uma situação dramática, que foi consumada pela morte.
Como em todas as coisas da vida ou da morte, nunca fazemos tudo, por mais que acentuemos a importância de um qualquer serviço nacional de saúde. A doença tem chagas que a exigência organizativa, DA NOSSA SAÚDE, nunca compreenderá.
Ou então de esperarmos por outras teias milagrosas, QUE vivem ou morrem, entre a medicina, A CUNHA E A fé.
Acompanhei todos os seus momentos, inclusive na hora, em que a sua filha Susana, me convenceu, por força da sua formação, da sua paixão PELO PAI. Uma paixão ainda SEM nome, para que gravasse uma mensagem, que o Fernando Reis, mesmo, em coma induzido conseguiria ouvir a mensagem, e que escutada de alguma forma poderia ser decisiva para que se acentuassem algumas melhorias… EU TAMBÉM FIZ ESSE IMPROVISO, MAS ATÉ HOJE, o MANO VELHO NUNCA MAIS ME RESPONDEU…
Fernando. Foste um combatente, pela defesa e valores da democracia, da verdade, da transparência, da lealdade, sem que alguma vez, a tua direcção à frente do Jornal, vivesse situações de equívocos.
Foste a verdade e a liberdade de imprensa.
Sem vacilares ou recuares, sem te venderes… mesmo que tivesse que sair, quase da alimentação das duas filhas e da tua família, o dinheiro para pagar à equipa do jornal, repito, NUNCA TE VERGASTE.
Nem MESMO QUANDO ME LIGASTE E NÃO FOI ASSIM há TANTO TEMPO, quando uma Empresa sediada ano Algarve, te telefonou pelo facto de eu ter dedicado algumas linhas do meu REMATE CERTEIRO, pondo em causa algumas situações comportamentais da empresa, e ameaçaram cortar a publicidade.
Porra que gente é esta, que nos pede o voto, e depois no despede.
Que gente é esta que nos pede para ajudarmos a manter o emprego, e depois, quando cortam na folha salarial, a primeira redução VEM LOGO contra o Jornal do Algarve.
O curioso é que isto nunca foi para o Fernando Reis, um dilema ou drama, foi sempre a sua razão de existência, a sua palavra, a sua coluna vertebral, o seu sentido de ética, rigor e de profissionalismo.
Não sei se estão aqui velhos colegas, alunos e companheiros da vida, do dia a dia, do Fernando Reis. Mas se estiveram, sintam-se recompensados, E ORGULHOSOS, por ficardes eternamente ligado ao homem e ao professor e terem conhecido e aprendido, com um ser humano fantástico.
E os que aqui não estão, levem-lhe este inolvidável momento, Estranho e doloroso momento, de ter estado hoje, no dia 13 de Maio do ano de 2022, 161 dias depois do falecimento do Mano Velho, a 4 de Dezembro do ano passado.

Neto Gomes e as palavras necessárias…

Citar Lídia Jorge e Susana Travassos
Permitam-me fechar esta minha intervenção, e se calhar nem o consegui, de homenagem ao meu querido e saudoso amigo Fernando Reis, com uma citação da escritora Dr.ª Lídia Jorge e a citação de um poema de Susana Travassos.
Lembra Lídia Jorge: – […]”A chegada, semanalmente, à nossa mesa, do Jornal do Fernando Reis, envolto numa cinta de papel usado, aproveitado dos restos, comovia. E comoverá. É preciso ser esperançoso. A sombra benigna de Fernando Reis inspirará quem se lhe segue. Todos desapareceremos, mas o sulco que fazemos na terra onde vivemos será mais forte do que a nossa fotografia. Fixem a fotografia de Fernando Reis, a sua causa tem muito para contar”…Fim de citação.
E agora o poema de Susana Travassos, COMO EM CERTA OCASIÃO VOS FALEI. UM POEMA, QUE LEMBRA QUE O NOSSO FERNANDO REIS CONITNUA A HABITAR AQUI,
Sem antes VOS PEDIR DESCULPAS SE DE TORNEI CANSATIVO:

“A partir de hoje
Temos outra morada
Moraremos na saudade
Será essa a nossa casa
Será esse o nosso nome
Será essa a nossa família
De lá não sairemos nunca
Nela estaremos sempre contigo
Seguindo os teus passos
Desejando os teus desejos
Desfrutando dos teus prazeres
Dormindo os teus sonhos
Caminharás nos nossos pés
Respirarás nos nossos pulmões
Somos parte de ti
E sem ti não existimos
Daqui de dentro não sairás
És o nosso norte,
O nosso amor
O nosso herói
O nosso Fernando”

Neto Gomes

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