A pressão do fecho

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No meio jornalístico todos conhecemos bem o significado da expressão “pressão do fecho”. É quando se aproxima a hora de o jornal ir para a gráfica e deixa de haver tempo para continuar a “pentear a prosa”, há que escrever à velocidade da luz e, ainda assim, alinhar ideias com nexo. Paradoxalmente, é desta pressa que, às vezes, resultam os melhores textos.

Foi o que aconteceu esta noite com os dois candidatos a candidatos a primeiro-ministro pelo PS. A cinco dias das primárias, sem mais nenhuma oportunidade para fazer passar a sua mensagem em simultâneo aos mais de duzentos mil potenciais eleitores que podem ir votar no domingo, António José Seguro e António Costa travaram na RTP o melhor (também porque o mais equilibrado) dos três frente a frentes desta campanha interna.

A conversa começou amena. Sobre o país e os problemas aos quais é preciso atribuir prioridade na resolução, Seguro e Costa falam em uníssono: criar emprego, diz um, combater o desemprego, diz o outro; apostar na reindustrialização, garante o primeiro, resolver a asfixia das empresas, propõe o outro. Repor os cortes nos rendimentos de reformados e pensionistas: estamos em condições disso, afirma um, é possível e necessário, sublinha o outro.

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As divergências mostraram-se apenas quando o debate, contra a vontade do moderador, se voltou para o passado e, num remake do primeiro debate, os resultados do PS nas europeias de junho vieram de novo à colação. Com o líder do PS a acusar novamente o adversário de ter provocado esta crise e este novamente a recorrer a um gráfico para sustentar a teoria de que, nas sondagens, é ele que os portugueses preferem.

A partir daí foi um verdadeiro frente-a-frente, com troca constante de argumentos que só demonstraram aos simpatizantes e militantes do PS, se dúvidas ainda houvesse, que o que está em causa nas primárias não é tanto uma opção entre os projetos, mas entre as pessoas.

A crispação subiu de tom a propósito da redução do número de deputados que Seguro propôs na semana passada. Costa, repetindo na cara do adversário o que tem vindo a dizer em todos os comícios, acusou o secretário-geral do PS de ter “cedido à argumentação populista”. Seguro devolveu o mimo: “Costa é o candidato do status quo, não quer a mudança”.

E subiu ainda mais quando, a propósito do “partido invisível” que diz haver na sociedade, Seguro deu rosto, pela primeira vez, “às pessoas associadas a esses interesses que apoiam António. Costa”, identificando o ex-administrador do BES Nuno Godinho de Matos, porta-voz dos fundadores do PS que apoiam Costa, como representando “a promiscuidade total entre o sistema financeiro e os partidos”.

Costa não gostou: “Se tu tivesses tido com o Governo um décimo da agressividade que tens para comigo, este Governo já tinha caído”. E questionou-o olhos nos olhos: “o que é que tu fizeste de concreto na vida para combater a corrupção?”, antes de arrolar as várias iniciativas nesse sentido que tomou enquanto ministro da Justiça.

A escalada teria prosseguido, não fosse a “pressão” de João Adelino Faria para “fechar” o programa. Domingo, a escolha é entre quem, segundo um, está “desde pequenino” a sonhar ser secretário-geral do PS e quem, segundo o outro, não teve “a coragem” de avançar quando “era difícil”; entre quem oferece “um projeto de mudança” e quem propõe “uma liderança renovada e mobilizadora”.

RE

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