Acabou-se o blá blá Blatter

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Em quatro dias tudo mudou. No princípio, Blatter o suspeito não foi Blatter o acusado, mas depois Blatter o acossado passou a Blatter o demisionário. Saberemos porquê: segundo o jornal AS, Blatter foi confrontado com provas de corrupção. Além de uma pressão mediática, económica e política sem precedentes, a investigação judicial a partir dos Estados Unidos foi a pedra que rolou montanha abaixo.

“Eu sou como um bode das montanhas. Sou imparável. Sigo, sigo e sigo”, disse Blatter há poucos dias. Com a reeleição na semana passada, fez da presidência da FIFA um escudo protetor. Não tinha comprado a impunidade, mas talvez ganhasse a inimputabilidade. Se assim pensou, pensou mal. Agora já não segue, segue, segue.

Michel Platini, Luís Figo, Diego Maradona foram os primeiros a pedir a demissão de Blatter, denunciando escândalos de corrupção ao mais alto nível na FIFA. Políticos como Angela Merkel ou David Cameron pediram limpeza no futebol. Patrocinadores como a Coca-Cola ameaçaram retirar apoios. Só mesmo Putin defendeu Blatter, acusando a justiça americana de abrir guerra à FIFA para prejudicar a Rússia. Mas foi mesmo dos Estados Unidos que veio a força que faltava. A força da lei.

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A FIFA organiza mundiais de futebol. Há décadas que há casos mais ou menos esparsos de denúncia de corrupção, que começaram no tempo do brasileiro João Havelange e prosseguiram com Joseph Blatter, que foi então uma escolha de continuidade. Em conjunto, os dois lideraram a FIFA durante 40 anos. Até que relatórios comprometedores (e até hoje não divulgados publicamente) denunciaram corrupção na escolha de organizações de Mundiais: as candidaturas da Rússia e do Qatar (para os mundiais de 2018 e 2022, respetivamente) terão sido compradas, com alguns dos votos a custar 1,5 milhões de dólares.

As reeleições de Blatter foram sendo garantidas sobretudo por federações de países mais pobres, de África e da Ásia. Como o Pedro Candeias explicou na semana passada no Expresso Diário, a existência de um esquema legal de favores tratava do assunto, através de distribuição de receitas. Mas havia também a denúncia de dinheiro ilegal, pago por debaixo da mesa. Envelopes dentro de travesseiros, colégios de filhos de presidentes de federações pagos por Blatter, relógios Hublot, prendas, facilidades, favores.

Na semana passada, a procuradora Loretta Lynch, do estado de Nova Iorque, mandou deter dirigentes da FIFA, afirmando que “eles corromperam o negócio do futebol mundial para servir os seus interesses e para enriquecerem”. A acusação de 164 páginas detalha como o dinheiro circulou no sistema financeiro americano através de vários esquemas. Na base da investigação esteve Chuck Blazer, antigo membro do comité executivo da FIFA culpado de dez crimes, que levou um gravador oculto para reuniões com responsáveis da FIFA. Blatter foi primeiro cercado, depois encostado.

A queda de Sepp Blatter significa mais do que uma mudança de poder, é antes uma limpeza na corrupção que toda a gente sabia existir na FIFA mas nunca ninguém antes conseguira destroçar. Talvez as portas até se abram para Luís Figo, a quem o tempo deu reiteradamente razão. Antes disso, elas já se fecharam para quem estava: para Blatter, que assim estará a acabar o seu “catch me if you can”. Como dizia o outro, “yes we can”. Os americanos nem gostam muito de futebol. Mas adoram um bom caso de corrupção. Na verdade, nós também.

RE

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