Ainda o coronavírus

E a epidemia como seria de esperar desceu até à capital e a seguir cá nos cairá em cima caso não haja cuidado que não vislumbro. Curiosamente não para o conselho de ministros nem para a Assembleia da República nem para algum conselho de administração de uma grande empresa apesar da necessária  mobilidade e eventuais contactos com ou sem máscaras todos os dias patentes nas televisões.


Claro nos bairros pobres da periferia nos trabalhadores da construção civil ou nos centros industriais com funcionários contratados acomodados e transportados a metro… e pagos ao centímetro. De facto, é fundamental entender que esta história das pandemias nunca foram iguais para todos… e o que se passa connosco mais uma vez bem o demonstra e não deve ser mascarado com números mais ou menos “difíceis de entender quando não contraditórios”.


Entendamo-nos. Creio ser do mais linear raciocínio perceber que o que está a acontecer nos bairros periféricos e ostracizados da periferia da grande metrópole levaria a refletir de uma forma humilde mas necessária que tal como em S. Paulo no Brasil o problema não é de todos é… das periferias. Talvez se já não houvesse ”periferias“ – todos vimos cá e na na Europa rica as torres da Jamaica – e nas grandes empresas sempre preocupadas com o bem estar dos seus “funcionários” antes operários, a nossa epidemia interna estivesse já em vias de mitigação. Não por acaso países como a Áustria, a Noruega, a Dinamarca a própria Grécia e mesmo outros da Europa central  estão a conseguir um controlo muito mais rápido e igualitário.


Temos que entender e bem que os nossos serviços de saúde,  que não o governo, deu o alerta atempadamente consciente da dramática situação em que nos encontrávamos e que muitos conhecedores se fartaram durante os últimos anos de  denunciar.


Convenhamos que o que aconteceu cá no nossa terrinha foi que quando nos apercebemos que tudo ultrapassava mais que um problema lá na China sem probabilidades de cá chegar e que Nossa Sra de Fátima não estava para cá virada como de costume talvez com algum receio… soaram todos os alertas… e bem! As estruturas do poder no que diz respeito à saúde foram obrigadas a tremer e rapidamente perceberam e tiveram o bom senso, ao contrário de a maioria das situações dos últimos anos,  de ouvir a voz dos sabedores, dos que sabiam da poda, sem serem políticos nem gestores nem fazedores de lei. O problema era demasiado grave e contrariava todos os últimos anos da política seguida.


E então de um dia para o outro a  linguagem mudou. Quem manda é o saber e os seus representantes e, pelo menos durante algum tempo, não é a finança “tout court”. 


Não há outra solução — quarentena! Pára tudo!!! E vamos apelar a um grupo de profissionais… por sinal, nos últimos anos tratados abaixo de cão, para nos salvar!!!


E, todo o programa foi estruturado e inteligentemente ouvido e respeitado  tendo em conta o estado em que se encontrava o nosso SNS.


 Tudo se orientou e bem, repito, no sentido de evitar um pico precoce epidémico que resultasse numa enorme incapacidade de resposta inclusivé na área dos cuidados intensivos mais que expectável nomeadamente nos grandes centros.
Essa, convenhamos, a enorme preocupação política.


Daí a quarentena e todo o verdadeiro massacre 24 h por dia na comunicação social igual para todo o país.


À estratégia parece ter sido feliz… porém não podia esconder a pobreza nem a miséria que ainda abunda  e que aí está a demonstrar e estará até que se perceba que não pode have um país que se quer civilizado com torres da Jamaica. 


E o aumento  de casos no grande burgo foi exponencial e rápido quando a proximidade entre as pessoas permitiu ao vírus “saltar” sem parar de paroquiano para paroquiano com toda a facilidade. O mesmo aconteceu nos complexos industriais e transportes .


Sem dúvida que os testes são fundamentais e mais uma vez graças à influência da ciência médica. Porém não chegam, tal como a contenção que se aguentou não por acaso no Norte onde os bairros miseráveis da periferia são em muito menor número. Nem o calor seco que poderia conter a propagação. 


Quando há quatro pessoas ou mais a dormir no mesmo quarto e autocarros acumulados e empresas com centenas de trabalhadores cujo objectivo é apenas o lucro para além de uma malta jovem ávida de festas coincidindo com os santos populares só por milagre não estaríamos perante o que vem acontecendo.


O passo seguinte é o Algarve onde já há sinais de de disseminação do vírus em Odiáxere com a primeira festa de Verão. O que se perspetiva a seguir é de pôr os cabelos em pé caso se abram as fronteiras sem qualquer controlo como parece vir a acontecer. O exemplo recente ainda só com turismo interno já assustou o suficiente.


E lembremo-nos que se houve zona onde o SNS foi mais delapidado e desorganizado foi noAlgarve.
Turismo claro mas primeiro vida dos que cá estão.


Uma coisa me vai parecendo:

A minha quarentena de três meses talvez fizesse mais sentido agora.

Eurico D. Gomes

Médico, Presidente da Direção e Diretor Clínico da A.E.D.M.A.D.A. IPSS Área da Saúde
Associação Diabéticos do Algarve – Clínica de Diabetes

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