Alcoutim vai ter a maior central solar do País

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Chama-se Solara4 e já é a maior central fotovoltaica do País em construção. Tem 661.500 painéis e só a área vedada ocupa o equivalente a 320 campos de futebol. É um projeto irlandês com capital chinês e está a instalar-se no concelho de Alcoutim considerado um dos territórios europeus com mais dias de sol e com melhor orografia para o efeito. Depois de concluído, o Solara4 fornecerá energia suficiente para abastecer de eletricidade cerca de 200 mil casas de família. Projeto e construção tiveram vários acidentes de percurso, mas agora será de vez, dizem os promotores. No fim do ano já haverá energia da Solara4 a correr nos cabos da Rede Elétrica Nacional (REN)

Deverá ficar concluída e entrar em funcionamento até ao final do ano a central fotovoltaica de Alcoutim, a maior unidade do género em construção no País, capaz de fornecer 382 gigawats/hora, energia suficiente para o abastecimento anual de 200 mil casas de família, disse esta semana ao JA o diretor de projeto da irlandesa WElink Goup, Hugo Paz. Liderado pelos irlandeses, o projeto Solara4 conta com capital chinês da Triumph International Engineering Company (CTIEC) e representa um investimento que ronda os 200 milhões de euros.

Hugo Paz, diretor de projeto da irlandesa WElink Goup


O Solara4, que terá uma capacidade instalada de 220 MW, tem sofrido alguns revezes, de natureza arqueológica, geológica e ambiental, mas a pandemia do Covid-19 atrasou ainda mais a entrada em funcionamento da central, que ainda há pouco mais de um ano estava prevista para o final de 2019.


“A pandemia de Covid-19 afetou e muito os trabalhos da Central. Desde janeiro de 2020, a China decretou um regime de quarentena obrigatória, paralisando as operações da empresa com contrato de EPC [Engineering, Procurement and Construction], China CTIEC. E depois as restrições impostas na Europa, sobretudo em Portugal e noutros países de origem dos subempreiteiros, originaram atrasos. A WElink e a CTIEC tomaram os passos necessários para assegurar que o projeto, empreiteiros e subempreiteiros, podem agora retomar os trabalhos de acordo com as recomendações da DGS e em segurança”, justificou Hugo Paz ao JA.


O mesmo responsável adianta que os vários achados arqueológicos obrigaram a empresa a fazer prospeções no terreno, nesse âmbito.”Essa foi uma das razões, mas outro motivo foram as árvores, tivemos que fazer algumas alterações ao projeto em função da existência de espécies protegidas, sobreiros e azinheiras. Teve que se alterar o lay out inicial, o projeto, para desviarmos ou deixar de fora essas áreas”, enunciou. Em vez dele, surgiu outro projeto mais comprimido, baixando de 400 para 320 hectares a área vedada do projeto, o que “acarreta maiores dificuldades na área de construção, porque é mais difícil de trabalhar”, disse.

Energia da central “engrossará” cabos da REN


Os 661.500 painéis instalados na zona de Martinlongo/Vaqueiros, a oeste do concelho algarvio, representam uma potência instalada de 220 MW (megawats)/pico. A área de instalação em estudo chegou aos 800 hectares, boa parte dos quais ainda se encontram na zona não vedada do projeto.


“Estamos a entrar para a última fase dos trabalhos, com as ligações e comissionamento elétrico. Todos os subprojectos associados estão 100% concluídos, subestação, linha elétrica de alta tensão e os trabalhos de ampliação da Subestação da REN estão prontos a ser ligados”, sublinhou o responsável máximo pela instalação no terreno.


Além da linha de alta tensão adjudicada à empresa Paínhas, a central fotovoltaica inclui a construção da subestação elétrica, adjudicada à Siemens Portugal, e a ampliação da subestação de Tavira por parte da REN. Uma vez que aqueles dois sub-projetos foram os que necessitaram de mais tempo para a conclusão, a Solara4 teve que reprogramar as suas atividades para que todas terminassem em simultâneo.

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Lançado em março de 2017, o projeto Solara4 deveria ter tido início logo em abril desse ano, até porque porque a autorização de construção dada pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), com validade de dois anos, expirava em setembro de 2018. Dadas as dificuldades de cumprimento de prazos,a empresa tem-se visto forçada a requerer sucessivas extensões da licença. Na prática, a construção só teve início em 2019, devido aos condicionalismos geológicos e arqueológicos, que motivaram revisões do projeto inicial.


Classificando de “ótima” a relação da empresa produtora de energia com a REN, que há-de distribuir no futuro a energia coletada na futura central alcouteneja, Hugo Paz declara-se pronto para ligar à subestação de Tavira “logo que o comissionamento da central esteja concluído e assegurada a Licença de Exploração”, num prazo de poucos meses. Essa distribuição será feita através da intermediação da Power Purchase Agreement, empresa concessionária e comercializadora de energia. com quem a Solara4/WElink tem contrato assinado.

A área vedada da instalação ocupa o equivalente a 320 campos de futebol

Quatro vezes mais potente do que a Amareleja


A preferência desta e outras empresas (ver caixa) para a produção de energia elétrica com base na luz solar deve-se a que se trata de uma região privilegiada dos pontos de vista orográfico e meteorológico, com os níveis de radiação mais elevados do País e um dos maiores de Europa. Ali, a energia do sol chega à Terra com a potência de 1.850 KW/hora por cada metro quadrado.


“A central de Alcoutim é a maior central fotovoltaica em construção de Portugal e no futuro vai ser durante alguns anos a maior central do País. Quadriplica a potência instalada da grande central da Amareleja”, observa Hugo Paz. Só a futura central de Mértola.


Capaz de abastecer uma cidade portuguesa de grande dimensão – se nos concentrarmos apenas no consumo doméstico -, a central de Alcoutim significará uma poupança de libertação de dióxido de carbono para a atmosfera de 326.700 toneladas por ano. Teoricamente, partindo do princípio que cada casa tem, em média, três residentes, poderia abastecer todos os cerca de 500 mil residentes permanentes do Algarve.


Desde o início da pandemia, a obra tem estado em standby, apenas com os serviços mínimos, prevendo-se que seja retomada nas próximas semanas com as atividades de comissionamento e de ligações elétricas, que estão pendentes. A instalação dos painéis no terreno está concluída.


“Devido às preocupações sanitárias [devidas ao Covid-19] com as nossas equipas e a população em geral vamos fazer a incorporação de pessoas na obra de uma forma faseada. Na primeira fase vamos ter 100 pessoas em obra e três a quatro semanas depois vamos aumentar gradualmente, até chegar às 200. Isto até ao final do ano, altura em que terminarão os trabalhos, se tudo correr bem”, explica o diretor de projeto da Welink.

Não tapar o concelho com painéis solares


Sobre o impacto do projeto no tecido económico-social do concelho, mostra-se convicto de que a central “tem e terá um efeito muito positivo para a região, não só com a criação de postos de trabalho para a manutenção da central, aproximadamente 10 pessoas, mas também pela sua contribuição para as finanças locais, já que a sede da empresa está situada em Martim Longo, Alcoutim.

Osvaldo Gonçalves, presidente da Câmara de Alcoutim


O presidente da Câmara de Alcoutim, Osvaldo Gonçalves, corrobora: “Num concelho em que os postos de trabalho não abundam é sempre vantajoso termos mais alguns, mesmo que sejam apenas 10, ou 20, ou 30”, afirmou o autarca ao JA.


Também concorda que a instalação dentro do concelho da sede da empresa, imposta por norma legal do município a todas as empresas candidatas a instalar-se no concelho, beneficia a autarquia e, indiretamente, os seus habitantes, mas encontra um terceiro benefício: “A transação imobiliária da instalação da empresa resultou muito benéfica para os cofres do município”, disse, calculando em cerca de 350 mil euros o Imposto Municipal sobre a Transmissão Onerosa de Imóveis (IMT) arrecadado pela autarquia, efeito que se estenderá às taxas da derrama municipal.


A rentabilização dos terrenos arrendados onde se situam os painéis e instalações da Welink é outra das vantagens que Osvaldo Guerreiro encontra: “São rendas muito interessantes de que estão a beneficiar vários proprietários do concelho”, explicita.


O autarca mostra a disponibilidade do concelho para mais projetos semelhantes (ver caixa), mas adverte: “Não queremos tapar o concelho com painéis solares!”.

João Prudêncio

Galp Energia tem projeto com a mesma potência

Tão interessante para o concelho como o Solara4, o projeto da Galp Energia encontra-se em fase mais atrasada mas representa também uma capacidade de potência instalada de 200 MW, idêntica à do projeto da empresa irlandesa.


Alegando a sua prematuridade, a Galp declinou os sucessivos convites do JA para que explicasse o projeto em pormenor, mas o JA apurou que ele ocupará uma área inferior ao seu irmão mais velho, com manchas de painéis mais pequenas e dispersas.

“Os painéis são mais concentrados, porque a orografia do terreno permite uma melhor otimização das placas. É por isso que a área não é tão grande”, disse ao JA uma fonte conhecedora do projeto.


Segundo a mesma fonte, inicialmente previa-se a conclusão do projeto para maio 2020, após o que deveria decorrer pelo menos um ano de obras, mas a pandemia também neste caso deverá ter feito das suas.


Fontes locais disseram ao JA que há outros promotores que se têm mostrado interessados em instalar painéis para aproveitar “o melhor sol da Europa”.


Entretanto, ali ao lado, no concelho alentejano de Mértola, criam-se condições para que os ensolarados terrenos existentes recebam, em breve, a maior central fotovoltaica do país, num investimento que rondará os 450 milhões de euros. O projeto é da empresa Fermesolar e abrange uma área de implantação aproximada de 703 hectares, ocupados pelas várias infraestruturas que compõem a Central Solar.


A central será constituída por mais de um milhão de painéis e terá um corredor de linha elétrica com cerca de 18,6 km, desenvolvendo-se ao longo do território dos concelhos de Mértola, Alcoutim e Tavira”. Enquanto não estiver concluído continuará o alcoutenejo Solara4 a brilhar como o maior projeto congénere do País.

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