Algarve a “bombar”, economia nacional a ganhar!

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A crise económica não está a afetar o Algarve enquanto destino turístico e a prova disso é que, este mês, é quase impossível não tropeçar em turistas nas praias, nas ruas e até no interior da região. Depois de anos de fortes quebras e marcados pela incerteza, o turismo algarvio está agora a dar sinais que pode mesmo ser a “galinha dos ovos de ouro” que o país precisa para sair da crise

O turismo algarvio está a crescer depois de anos de fortes quebras, sendo mesmo expectável que 2015 supere os números “recorde” do ano passado.

Este mês de agosto, a região deverá mesmo ultrapassar as três milhões de dormidas em estabelecimentos hoteleiros verificadas em 2014, já que parece evidente para todos os agentes do setor que há mais turistas no Algarve, quase todos concentrados nas zonas turísticas do litoral, mas também muitos milhares nos concelhos do interior.

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É o caso de Elliot, Daniel e Thomas, três turistas ingleses que aterraram em Faro numa noite quente de quarta-feira. Os amigos optaram por passar férias num hostel de Lagos por várias razões, todas elas já bastante conhecidas dos algarvios: “As praias são ótimas, o clima é espantoso, a comida é formidável”, dizem.

Mas, num dia em que foi noticiado em todo o mundo mais um atentado bombista, desta vez na Tailândia, também não esquecem de referir que, apesar de alguns episódios de violência nas ruas, principalmente à noite, “sentimos que há muito mais segurança no Algarve do que noutros destinos, como na Tunísia, Turquia e até mesmo na Espanha aqui ao lado”.

Este sentimento é partilhado pela maioria dos turistas estrangeiros que escolhem o Algarve para passar férias. Grande parte continua a optar pelas praias do litoral algarvio, onde, por estes dias, é quase impossível encontrar um lugar para estacionar o carro ou um espaço para deitar a toalha no areal.

Mas também há cada vez mais turistas a descobrir os encantos do interior algarvio, como acontece em Monchique, onde foram legalizadas 30 novas unidades nos últimos seis anos (12 abriram já em 2015), entre alojamentos locais, turismo em espaço rural e agroturismo, o que representa mais 200 camas neste concelho sem praias.

A caminho do melhor ano de sempre

Para a maioria dos operadores turísticos ouvidos esta semana pelo JA, o Algarve está na moda devido aos prémios internacionais que tem vindo a amealhar nos últimos anos, mas também admitem que a instabilidade nos mercados concorrentes está a desviar mais turistas para a região. E todos reconhecem que este poderá ser o melhor ano de sempre do turismo algarvio, a julgar por este mês de agosto, em que quase todos os hotéis estão cheios, uma tendência que deverá manter-se ainda em setembro.

Em 2014, o Algarve teve mais de 16 milhões de dormidas, mais de seis milhões de passageiros movimentados no aeroporto de Faro e mais de um milhão de voltas de golfe. “E a hotelaria algarvia ‘injetou’ quase 700 milhões de euros na economia do país”, realça a Região de Turismo do Algarve, lembrando que a região está de novo nomeada, em 2015, pelo quinto ano consecutivo, para “Melhor Destino de Praia da Europa” nos World Travel Awards, os óscares do turismo internacional.

As estimativas para este ano apontam para “mais de 17 milhões de dormidas”, um crescimento perto dos dez por cento que faria de 2015 o melhor ano de sempre para o turismo algarvio.

Dormidas e receitas a crescer

Desde o início de 2015, apenas os meses de janeiro e fevereiro registaram valores abaixo em termos de taxas de ocupação em relação ao ano anterior. Os últimos cinco meses (março a julho) foram melhores que 2014, que já tinha sido considerado um ano “recorde” pelas entidades oficiais.

A taxa de ocupação no passado mês de julho foi mesmo a quarta melhor das últimas duas décadas, com 86,9%, apenas ultrapassada em 2007 (87,2%), 2000 (89,4%) e 1999 (90,0%). No mesmo mês, as unidades de alojamento do Algarve registaram um aumento de 9,4% do volume de negócios relativamente ao mesmo mês de 2014, indicam os dados provisórios da Associação de Hotelaria e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).

Ainda assim, os últimos dados do INE mostram que o Algarve ficou à margem do aumento de dormidas de turistas nacionais no primeiro semestre deste ano (-1,2%, para 1,228 milhões). Porém, esta queda foi compensada pela subida de dormidas de turistas estrangeiros (+1,5%, para 5,24 milhões).

Algarve a puxar pela economia do país

Estes números, a confirmarem-se até ao final do ano, também vêm reforçar o Algarve como uma das regiões mais exportadoras de Portugal.

Tal como adiantou o JA na edição de 11 de junho de 2015, o peso do turismo algarvio está a revelar-se cada vez mais importante para a recuperação económica do país, para o emprego e para as exportações. E já representa, pelo menos, 40% do total das exportações de bens e serviços do setor do turismo nacional!

O papel do setor na recuperação do país é sublinhado na newsletter de junho do NERA – Núcleo Empresarial da Região do Algarve, onde o presidente da direção, Vítor Neto, revela alguns números que evidenciam a crescente importância do turismo algarvio na economia nacional.

“O setor do turismo, com as receitas externas que gera, é o maior exportador (de bens e serviços) de Portugal: 10.394 milhões de euros em 2014, ou seja, 14,8% do total das exportações. Este valor contribuiu em 68% do crescimento global das exportações”, acentua o presidente da direção do NERA e antigo secretário de Estado do Turismo (1997-2002).

Vítor Neto realça que o Algarve, “que em 2014 registou 12,4 milhões de dormidas de estrangeiros (alojamento legal) que correspondem a cerca de 40% do total nacional – representa, em termos de receitas externas, pelo menos, 40% daqueles 10.394 milhões, isto é, mais de 4.000 milhões”.

Assim sendo, o líder da associação empresarial não tem dúvidas que o Algarve é “uma das regiões mais exportadoras de Portugal” devido ao turismo, já que a região algarvia não apresenta uma grande estrutura produtiva.

Turismo merece o “destaque” a que tem direito

O único – mas enorme – senão, diz Vítor Neto, é que o Algarve tem de saber valorizar o seu peso na economia nacional. Ou seja, ao turismo deve ser dado o “destaque” a que tem direito, a bem da economia nacional.

Num texto intitulado “Afirmar o peso do Algarve na economia do país”, o presidente da direção do NERA alerta que, apesar dos bons resultados turísticos alcançados no último ano, “o Algarve tem de se preparar para um futuro altamente competitivo, que já aí está e que não vai ser fácil enfrentar”.

Já a associação União Pelo Futuro do Algarve (Algfuturo), alerta que o turismo algarvio está “muito abaixo” dos números divulgados pelas entidades oficiais, ou seja, não está a acompanhar os fortes crescimentos do país.

“O período e análise respeita ao primeiro semestre de 2015, tendo os dados do INE feito concluir que, na hotelaria, o Algarve ficou para trás, não acompanhando, e até apresentando tendências divergentes, em relação aos fortes crescimentos sustentados do país”, sustentou a Algfuturo, acrescentando que “o comportamento do setor comparado com o ano passado foi muito semelhante, com ligeira oscilação positiva nos proveitos da hotelaria, embora muito inferior à média nacional”.

Associações refreiam otimismos

A Algfuturo salienta, deste modo, que a tendência da economia turística é de “estagnação” e lembra que os indicadores da procura na hotelaria (taxa de ocupação) devem ser avaliados com “rigor”, nunca esquecendo que “os valores de agora se sucedem a anos de fortes quebras e que ainda são inferiores a outros períodos”.

Assim, a associação realça que o conjunto da economia turística (alojamento residencial e hoteleiro, restauração, animação, transportes, comércio e serviços) “continua a ser profundamente afetado pela sazonalidade e seus efeitos negativos na rentabilidade das empresas, desemprego e precariedade, com uma longa época baixa de outubro a maio e de quase paralisia entre novembro e março”.

Já recentemente, a principal associação hoteleira da região veio a público advertir que “o grande aumento das dormidas que vem sendo divulgado publicamente por alguns organismos oficiais, não encontra correspondência no aumento das ocupações das unidades hoteleiras e turísticas do Algarve e, muito menos, nos resultados económicos das empresas”.

Apesar do saldo positivo, a associação adianta que as taxas atuais (57,2% em 2014) ainda estão longe das ocupações anteriores a 2008. A taxa de ocupação média por quarto ascendeu aos 63,8% em 2007, aos 68,3% em 2000, e aos 70,2% em 1999, só para dar alguns exemplos. Ainda assim, a AHETA considera este aumento “bastante positivo”.

Turismo com cada vez mais peso na economia nacional

Entretanto, os dados divulgados pelo Banco de Portugal, na passada sexta-feira, vêm mostrar que o turismo está a impulsionar – e muito – a economia nacional, tornando possível que o país tenha um excedente externo pelo quarto ano consecutivo.
Segundo o BdP, as receitas geradas pelo turismo em Portugal subiram 12,2% no primeiro semestre de 2015, para 4,584 mil milhões de euros.

A informação do banco central permite calcular que, sem o contributo de um excedente do turismo no montante de 2,817 mil milhões de euros, o saldo da balança de bens e serviços, em lugar de um excedente de 698 milhões, teria um défice de 2,119 mil milhões.

2014 foi o melhor ano da última década

TOTAL DORMIDAS ALGARVE:
2014 – 16,397 milhões
2013 – 14,741 milhões
2012 – 14,326 milhões
2011 – 13,979 milhões
2010 – 13,247 milhões
2009 – 12,927 milhões
2008 – 14,265 milhões
2007 – 14,704 milhões
2006 – 14,163 milhões
2005 – 13,814 milhões
2004 – 13,252 milhões

Fonte: INE

Nuno Couto/JA

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