Algarve na rota da canábis para fins medicinais

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O Algarve vai ter, pelo menos, quatro unidades de cultivo e produção de óleo de canábis para consumo com fins terapêuticos nos próximos anos. Uma das maiores deverá situar-se na extremidade leste da região, nos concelhos de Castro Marim (cultivo) e Vila Real de Santo António (produção industrial) e já se encontra em fase de implementação, a cargo da empresa portuguesa Prisma – Produtos Farmacêuticos, Lda. O JA falou com Dinis Dias, especialista do setor, que nos deu uma entrevista/visão panorâmica sobre o maior investimento previsto para a região e, genericamente, a indústria e história da canábis medicinal em Portugal

São 10 hectares de produção agrícola de cannabis sativa no interior do concelho de Castro Marim e 6 mil metros quadrados de produção industrial, num investimento global que pode ascender a 10 milhões de euros. Baseado inicialmente em fundos próprios e terrenos de quatro empresários associados, o projeto contou com financiamento bancário e concorreu a programas em sede de IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas). A parte agrícola já recebeu pré-autorização do Infarmed e a fábrica onde se transformarão as flores de canábis em produtos farmacêuticos está em fase de projeto de especialidade.

“Trata-se de uma fábrica de produtos farmacêuticos, que exige projetos de especialidade, que leva tempo a ser desenvolvido”, disse ao JA um consultor e investidor da área, Dinis Dias, 42 anos, co-fundador daquele projeto, mas atualmente a trabalhar como consultor nesta Indústria. Adiantou que a produção fabril poderá começar já em 2021.

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De acordo com o mesmo especialista, “a colocação no mercado de substâncias terapêuticas à base de canábis pode levar dois anos a licenciar e se se tratar de um medicamento poderá levar até sete anos, mas a nova unidade deverá começar pela exportação para alguns dos vários países em que o consumo para fins terapêuticos já é possível”.

De oficina gráfica a produtora de substâncias terapêuticas e medicamentos de canábis


Neste momento o consumo está legalizado em países tão diversos como Canadá, mais de metade dos estados dos EUA, Uruguai, México, Argentina, República Checa, Polónia, Alemanha e Reino Unido. Além de Portugal, onde a comercialização foi autorizada em meados de 2018, mas onde só o Sativex está autorizado em matéria de comercialização enquanto medicamento.

É com essa panóplia de países que contam os empresários da fábrica do sotavento algarvio. Em Vila Real de Santo António a construção, começada em 2019, envolve a remodelação das antigas instalações da Litográfica do Sul, na zona industrial da cidade.

O projeto prevê uma faturação de vários milhões de euros a partir do 3.º ano de operação e aponta para a criação de 350 a 400 postos de trabalho nas duas unidades – a agrícola, constituída por estufas, e a industrial, na malha urbana de Vila Real de Santo António.

As estufas e a fábrica são executadas por empresas portuguesas e estrangeiras, parcialmente baseadas em know-how nacional, tendo sido acordada uma parceria com a Universidade do Algarve.

Dinis Dias, sócio co-fundador e mentor do projeto inicial, integrou como empresário a parte de planificação e execução da ideia, mas entretanto saiu da empresa. Estreitamente ligado ao setor – trabalha atualmente como consultor em várias empresas da área – trabalhou no Canadá durante dois anos (2017/2018) como supervisor de produção de canábis medicinal. “Durante esse período ganhei experiência, quando voltei a Portugal tinha know-how para iniciar o projeto. Concebi o projeto, procurei e angariei os investidores”, disse o consultor ao JA.

Os restantes sócios fundadores, atuais proprietários da Prisma, escusaram-se a falar nesta altura com o JA, justificando que o projeto se encontra ainda em curso e remetendo declarações para mais tarde.

Apesar do silêncio a que se impôs relativamente às perguntas da Imprensa, no início de dezembro passado a Prisma anunciou que recebeu uma pré-autorização do Infarmed para preparar a atividade de acordo com as regras GACP (Good Agricultural and Collection Practice) e GMP (Good Manufacturing Practices) e obter a autorização através de uma inspeção das autoridades.

Aquela autorização permite o cultivo, importação e exportação de canábis medicinal. A obtenção da autorização está alinhada à estratégia de verticalidade da Prisma no negócio de cannabis medicinal para a indústria farmacêutica (P&D, cultivo e colheita, secagem e processamento, extração, API de cristalização, fabricação de medicamentos, engarrafamento e rotulagem).

Empresa de VRSA reivindica ser a primeira 100% portuguesa


Segundo o CEO da Prisma, João Nascimento, citado na nota de Imprensa, “a obtenção desta pré-autorização vem ao encontro de uma estratégia de verticalidade da PRISMA, no negócio da canábis medicinal para a indústria farmacêutica. Ou seja, pretendemos que a atividade abranja toda a cadeia de valor desde a I&D, cultivo, transformação e colocação no mercado de produtos à base de cannabis para fins medicinais numa área com cerca de 10 hectares. Este projeto iniciou-se em 2018 com a constituição de uma equipa com experiência na indústria farmacêutica e no setor da agricultura”.

A empresa garante que Portugal reúne neste momento as melhores condições estratégicas para a implementação desta nova área de negócio: o clima, localização, recursos humanos, conhecimento, política, legislação aplicável, entre outras. “Existe um grande potencial para se tornar um país líder na pesquisa, na produção e, também, como um dos maiores exportadores de cannabis medicinal da Europa”, afirma.

No mesmo documento, a Prisma apresenta-se como a primeira empresa no mercado da canábis medicinal constituída com capital 100% português. “Tem como objetivo tornar-se uma referência na investigação e desenvolvimento, cultivo, colheita, secagem, processamento, extração, cristalização – API, fabrico de medicamentos e acondicionamento de canábis medicinal. Todos os sócios partilham da preocupação social de vir a fazer parte de uma cadeia de valor que fornece medicamentos, preparações ou substâncias à base da planta de Cannabis Sativa L. com uma Qualidade Premium”.

A Prisma reivindica possuir “uma equipa experiente e qualificada na indústria agrícola e farmacêutica, que uniu forças para realizar um sonho comum: fornecer produtos de cannabis medicinal, produzidos em ambiente GMP, com uma qualidade Premium para um número crescente de pessoas, que encontram alívio nas propriedades terapêuticas da planta de cannabis”.

“A nossa atuação no mercado leva em consideração a comunidade, agindo de forma confiável e honesta com todos os nossos parceiros e com o meio ambiente. Acreditamos que nos devemos preocupar com a natureza e com quem nos rodeia, garantindo um futuro sustentável e brilhante para as próximas gerações”, enuncia a empresa.
Além da Prisma, no Algarve há pelos menos outras três empresas dedicadas ao óleo de cannabis em fase de instalação, em Luz de Tavira, Olhão e perto de Messines.

João Prudêncio

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