O alojamento local tem sido alvo de grande polémica. De certa forma (mais informalmente que não) sempre existiu. Porém, só com o aparecimento de plataformas na Internet (como a Airbnb) a atividade se generalizou. De repente, posso estar nos Estados Unidos e arrendar facilmente um apartamento no Algarve por uma semana ou mesmo alguns dias.
É natural que o grande crescimento do alojamento local esteja rodeado de polémica. O alojamento local afeta, para bem e mal, o interesse de vários grupos. O mais óbvio são os hotéis. O alojamento local faz concorrência direta aos hotéis mesmo ao de cinco estrelas. Por exemplo, existem vivendas de luxo em alojamento local.
Outro grupo afetado são as pessoas que procuram casas para arrendar. O alojamento local está a tornar mais caros os preços das rendas, em geral, e nas zonas mais turísticas, em particular. Assim, muitas pessoas são forçadas a arrendar casas mais longe do que acontecia antes.
Um terceiro grupo são os vizinhos das casas em alojamento local. As pessoas que utilizam o alojamento local tendem a estar de férias. Dessa forma, tendem, por exemplo, a deitar-se mais tarde e a fazer mais barulho do que seria habitual. Naturalmente, isso é mais incómodo para os vizinhos.
O alojamento local tem algumas consequências negativas como qualquer atividade. Deve existir alguma regulamentação sem exageros. A grande questão é se as consequências positivas ultrapassam as negativas. A meu, as positivas são muito maiores que as negativas. Por um lado, o alojamento local trouxe para o mercado muitas casas que estavam vazias. Os seus proprietários julgavam que não valia apena arrendar. Por outro, o alojamento local trouxe para economia legal muitos proprietários que alugavam ilegalmente as suas casas para férias. Julgam que alojamento local (mesmo pagando os impostos) é mais lucrativo que a atividade ilegal. Tudo isto resulta em mais receitas para o estado central e câmaras.
Nós, Portugueses, tendem em investir as nossas economias em imobiliária (essencialmente, casas e apartamento). A atividade típica para os rentabilizar é alugar. O que convenhamos, com todos os impostos associados ao imobiliário, não compensa. Somente se o imóvel se valorizar se torna verdadeiramente compensador esse investimento. E não está escrito nas estrelas que isso acontece sempre.
Por exemplo, os alemães tendem mais a investir as suas poupanças em atividades mais diretamente produtivas como fábricas. Naturalmente, que isso, a médio e longo prazo, faz uma grande diferença nas suas economias por serem atividades de maior valor acrescentado.
O alojamento local possibilitou a quem tem casas ter uma atividade com maior valor acrescentado. Vai para além do simples aluguer em que, simplesmente, se espera pelo pagamento no final do mesmo. No alojamento, local é necessário fazer mais. Dois exemplos:
Consultar a plataforma e responder a mensagem de quem quer arrendar;
Limpar e arrumar a casa antes da vinda de novos hóspedes.
Se calhar o leitor está a pensar que o valor acrescentado do alojamento local é pouco quando comparado com as fábricas dos alemães. Se foi esse o caso, eu concordo com o leitor. Porém, quando comparado com o simples aluguer de uma casa, o alojamento local tem, claramente, mais valor acrescentado
A meu ver, o crescimento do alojamento local é um passo em frente para economia do Algarve. O alojamento local tem vindo a permitir rentabilizar o investimento em casas como antes nunca tinha acontecido.
É o suficiente para o desenvolvimento sustentado do Algarve? A resposta só pode ser um grande NÃO.
Ivo Dias de Sousa
professor da Universidade Aberta – [email protected]