Amaro Antunes, o ciclista que quis sempre ser protagonista

“Sou uma pessoa que gosta de desafios"

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Amaro Antunes, o algarvio que nunca se contentou com um papel secundário, despediu-se esta semana precocemente do ciclismo, por ter perdido a ambição que pautou a sua carreira, mas com as mesmas três Voltas de Joaquim Agostinho e Alves Barbosa.

Para alguém sempre tão contido, nas palavras e, sobretudo, nas emoções, não é de estranhar que o adeus ao ciclismo tenha sido plasmado num comunicado, ‘testemunho’ de um final de carreira, aos 32 anos, que tem tanto de inesperado como de surpreendente, apesar da tormenta provocada pelo caso W52-FC Porto.

“Sou uma pessoa que gosta de desafios”: a descrição foi feita pelo próprio durante a Volta a Portugal de 2021, a terceira que viria a ganhar e que lhe permitiu igualar Joaquim Agostinho e Alves Barbosa na ‘galeria dos campeões’.

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Ainda que distraído no dia a dia, o ciclista de Vila Nova de Cacela nunca perdeu o foco sobre aquilo que o motivava – ser um referente do ciclismo português -, exibindo a sua ambição pelas equipas por onde passou e nas quais nunca se contentou em ser ‘apenas’ um ‘ator secundário’, trilhando o seu caminho com calculismo e determinação, a mesma com que lançava ataques no seu terreno predileto, a montanha.

Profissional desde 2011, patamar a que chegou depois de brilhar desde júnior – foi campeão nacional de fundo e de contrarrelógio em 2008, ano em que ‘limpou’ quase todas as provas em que participou -, aventurou-se pela primeira vez lá fora na Ceramica Flamínia-Fondriest, a equipa italiana que era um ‘viveiro’ de talentos, mas que foi um sonho frustrado para os portugueses que por lá passaram, abandonados à sua sorte pelos seus patrões.

Individualista q.b., nem sempre consensual, apesar de sempre politicamente correto em público, o algarvio regressou a Portugal e nunca escondeu que queria mais, primeiro no Banco Bic-Carmin (2014), depois na LA Aluminios-Antarte (2015 e 2016) e, posteriormente, na W52-FC Porto, equipas em que se destacou, sem nunca ser verdadeiramente o único chefe de fila, e somou lugares no top-10 da Volta a Portugal.

Foi essa ambição que o levou a dar o salto para o estrangeiro, para a CCC, em 2018, depois de triunfar no alto do Malhão e ser quinto na Volta ao Algarve ganha por Primoz Roglic, de vencer o Troféu Joaquim Agostinho, ocupar o segundo lugar do pódio na Volta de 2017 e de ‘esmagar’ a concorrência, juntamente com o vencedor Raúl Alarcón – herdou este triunfo, após a desclassificação por doping do seu antigo companheiro, igualando Joaquim Agostinho e Alves Barbosa no número de vitórias na prova.

Na equipa polaca, deu nas vistas, com lugares de relevo e a vitória na Volta a Malopolska, contudo, foi no ano seguinte, quando a CCC ascendeu ao WorldTour, que o trepador português mais se destacou: esteve durante seis dias no top-10 do Giro, onde foi mesmo terceiro na 19.ª etapa, antes de ser relegado dos planos dos seus diretores para os grandes palcos.

“Passei uma bonita experiência, por opção também regressei, porque, muita das vezes, é mais importante a nossa motivação e bem-estar e acho que aqui encontro isso. Também me dá mais oportunidade para estar junto da família, que era coisa que não tinha”, resumiu o ciclista, que é pai de uma menina, mas sempre foi profundamente hermético em relação à sua vida pessoal, numa entrevista à Lusa antes do arranque da Volta a Portugal de 2021.

De regresso a casa e a uma equipa com a qual se identificava, até por ser portista de coração, Antunes encontrou o rumo para a primeira vitória na Volta a Portugal, palco maior da expressão das suas qualidades de ‘natural born star’, que o levaram mesmo a um périplo pelas televisões após a sua conquista.

O à vontade perante os microfones e o facto de não se intimidar em público incentivaram-no mesmo a abraçar o repto de se candidatar à Junta de Freguesia de Vila Nova de Cacela, nas eleições autárquicas de setembro de 2021, cargo para o qual não foi eleito.

Seria apenas o primeiro revés de um ‘annus horribilis’, em que a doença e a morte da mãe, primeiro, e o ‘terramoto’ provocado pela operação ‘Prova Limpa’, depois, abalaram os alicerces de alguém para quem a autoconfiança era uma característica inata.

Após uma temporada em que os dias de competição praticamente se contaram pelos dedos das mãos, e em que ficou ‘livre’ do compromisso que tinha assumido com a W52-FC Porto, quando a equipa desistiu da inscrição como continental, o algarvio ainda assinou contrato com a ABTF-Feirense, na expectativa de voltar a ocupar, este ano, o seu lugar de destaque no ciclismo português, mas o ‘peso’ do passado recente precipitou este desfecho abrupto na carreira.

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