“André Jordan acertou: isto acabou mesmo mal!”

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A venda do mais importante e valioso empreendimento imobiliário turístico da região, em 2004, feriu de morte o desenvolvimento do turismo algarvio. “André Jordan vendeu, o Algarve ia mudar”, explica ao JA Vítor Neto, salientando que há lições a tirar deste caso. Depois de ter caído nas mãos de empresas estrangeiras (espanholas e irlandesas), que entretanto faliram, o empreendimento pertence hoje de facto ao Reino de Espanha e à República da Irlanda

Em “Portugal Turismo – Relatório Urgente”, Vítor Neto escreve um capítulo interessante e revelador sobre a venda da Lusotur, em 2004. “Este ano, para além de ter sido o pior da década em termos de turistas estrangeiros, pode dar-nos a chave para a compreensão do que se passou nos últimos dez anos”, defende o empresário.

No capítulo “Porque vendeu André Jordan”, o autor explica que o mentor do projeto Lusotur – o mais importante empreendimento imobiliário turístico não só do Algarve, mas do país e até da Península Ibérica – vendeu em 2004 a componente imobiliária a um grupo de construção e imobiliária espanhol (Prasa). Mais tarde, Jordan vendeu também a componente do golfe ao Grupo Oceânico, um grupo de investidores irlandeses.

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O próprio investidor, em entrevista ao Expresso (2010), justificou a ação com o excesso de oferta que já se verificava no mercado imobiliário, uma situação que o levava a considerar que “o modelo existente para o futuro não é viável”.

“O impacto destas ações não poderia ser só local, regional. Mas ninguém reparou”, lamenta Vítor Neto, considerando curioso que ninguém em Portugal tenha percebido que, “com a saída de cena de André Jordan, iniciava-se o desmoronamento de um bloco empresarial/político, um bloco de interesses não formal, mas real, que tinha estado na base do desenvolvimento do turismo no Algarve nos anos anteriores, constituindo de facto a âncora, a coluna vertebral dos sucessos da década de noventa até ao início da seguinte”.

“Aos novos donos não os preocupa o turismo algarvio”

De acordo com Vítor Neto, a venda de André Jordan (separando a imobiliária e os golfes) foi “o princípio da desagregação de um projeto-charneira do Algarve e de uma visão de crescimento associado ao turismo que os novos compradores espanhóis não tinham”.

Em resultado, “as vivendas da Lusotur estão hoje a ser postas à venda desvalorizadas por um banco espanhol” (que também já faliu e está a ser intervencionado pelo Banco de Estado espanhol), adianta o empresário algarvio, salientando que, “como é evidente, estes novos donos forçados não querem saber do turismo e do Algarve para nada, só querem recuperar o investimento e desaparecer o mais rapidamente possível”.

Por seu lado, o grupo irlandês que adquiriu a componente do golfe também faliu recentemente, sendo que os bancos que financiaram o projeto também faliram e estão a ser intervencionados pelo Banco da Irlanda.

Ou seja, resume Vítor Neto, “o empreendimento, concebido e construído por André Jordan, pertence hoje de facto ao Reino de Espanha e à República da Irlanda”.

Para o empresário algarvio, “a primeira lição a tirar é que, para uma região que pelo seu peso é líder nacional, como é o caso do Algarve, é fundamental que existam projetos de turismo com dimensão, que funcionem como projetos âncora com um papel dinamizador, e não apenas esta ou aquela iniciativa limitada e isolada”.

“André Jordan era parte integrante da própria imagem turística do Algarve. E foi isso que o Algarve e o país perderam. E não perceberam…”, lamenta Vítor Neto, concluindo que, hoje, nada disto existe: “nem investimentos âncora, nem interesses e objetivos comuns nem vivências sociais e políticas influentes. Nem personalidades carismáticas”.

NC/JA
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