Antigo braço direito de Lagarde acusado de associação criminosa

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Três dos principais envolvidos numa indemnização milionária a Bernard Tapie foram acusados. Ex-presidente Nicolas Sarkozy é visado e François Hollande tenta salvar Christine Lagarde.

Os termos da acusação dos magistrados contra três dos envolvidos no escândalo são tremendos porque burla e associação criminoisa é, habitualmente, apenas reservado aos arguidos em casos de grande banditismo. Mas, neste processo, envolve Stéphane Richard, antigo chefe de gabinete da atual diretora do FMI, Christine Lagarde, quando esta era ministra francesa da Economia e Finanças.

Richard é hoje o presidente do império multinacional, Orange, antiga France-Telecom, que emprega 170 mil pessoas e tem 226 milhões de clientes, cargo de que poderá ter de demitir-se. O Governo socialista de Jean-Marc Ayrault anuncia que devem ser tiradas todas as consequências do processo – o Estado francês é o acionista maioritário, com 27 por cento, de Orange.

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Além do presidente do gigante das telecomunicações, foram acusados igualmente Pierre Estoup, que foi um dos juízes do tribunal arbitral privado que atribuiu a indemnização de 403 milhões de euros a Bernard Tapie, polémico homem de negócios, e Jean-François Rocchi, ex-presidente da CDR, a estrutura que geria o passivo do banco Crédit Lyonnais (então público), durante o litigio judicial do banco com Tapie.

Sarkozy e Lagarde envolvidos

Depois de ter sido interrogado durante dois dias pelos juízes que instruem o processo, Stéphane Richard terá, segundo diversas fontes, envolvido o Eliseu no caso, confirmando reuniões ao mais alto nível de Tapie com o ex-presidente, Nicolas Sarkozy, e o ex-secretário-geral da presidência e ex-ministro do interior, Claude Guéant.

Na altura, em 2008, a decisão de recorrer a um tribunal arbitral privado para resolver o contencioso de Tapie com o banco a propósito da venda da empresa Adidas, terá sido decidida em conjunto por Sarkozy, Guéant e Christine Lagarde.

Hollande protege Lagarde

No entanto, os juizes de instrução deste caso estão limitados nas suas acções porque o processo decorre em duas vias judiciais paralelas. Christine Lagarde é investigada por um tribunal político especial para ex-ministros, o Tribunal de Justiça da República (CJR) que, há dias, foi muito benevolente com ela. A diretora do FMI foi colocada pelos investigadores deste tribunal como “testemunha assistida”, um estatuto intermédio entre o de simples testemunha e o de acusado que, contudo, pode evoluir para uma acusação formal se surgirem novas provas, como parece ser o caso.

A decisão do CJR sobre a ex-ministra da Economia agradou ao presidente, François Hollande, que considera ser negativo para a imagem da França que o país volte a perder um diretor do FMI depois do caso de Dominique Strauss-Kahn, que foi obrigado a abandonar o mesmo posto devido a um escândalo sexual.

Com Lagarde muito enfraquecida devido à acusação com termos muito violentos contra o seu ex-chefe de gabinete, Claude Guéant deverá ser o próximo a ser interrogado pelos juízes de instrução. Como, na altura dos factos, ele ainda não era ministro, nada se opõe a que Guéant seja julgado pelos tribunais normais. O cerco a Sarkozy ficará, neste caso, mais apertado.

“É um escândalo organizado pelo Estado contra o Estado”

“Estamos perante um dos maiores escândalos da República, é um escândalo organizado pelo Estado contra o Estado e é evidente que nada poderia ter acontecido, neste escândalo, sem o aval do presidente Sarkozy!”, comentou François Bayrou, chefe do centro-direita francês.

Bernard Tapie é um “sulfuroso” homem de negócios, muito volátil na política. Foi ministro de um Governo socialista de François Mitterrand antes de apoiar Nicolas Sarkozy. Quando este foi eleito para a presidência francesa, em 2007, terá exclamado, segundo um seu ex-amigo: “Pronto, vou receber o dinheiro!”.

O Governo socialista atual anunciou que o Estado vai constituir-se assistente no processo judicial para averiguar se houve de facto conluio “de um bando” em prejuízo do Estado. Se a acusação for provada pelos tribunais, o Governo poderá pedir que seja anulada a decisão do tribunal arbitral privado favorável a Tapie.

Este tribunal arbitral impediu na época as instâncias judiciais normais de decidirem sobre o contencioso do Crédit Lyonnais com Tapie.

Daniel Ribeiro (Rede Expresso)
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