Ao correr da pena: Fernando Reis (1955-2021)

Quando soube que o Fernando nos tinha deixado, não acreditei. Parecia-me estranho que um homem tão vital como ele tivesse partido. Era algo que não me entrava na cabeça! Demorei algum tempo até me capacitar que era mesmo verdade e que não voltaria a ver o Fernando Reis.

Tive o privilégio de conhecer a família Travassos/Reis através da filha Susana, cuja voz me encantou desde a primeira vez que a ouvi. Depois mas muito rapidamente, estabeleceu-se uma amizade que, embora de fresca data, imediatamente subiu a um patamar que quase a equiparou a uma velha amizade. Da irmã à avó, dos pais aos tios e ainda a amigos, foi-se construindo uma teia de amizades que rapidamente ultrapassou a própria Susana e passou para toda a família. Uma família com uma coesão, uma dinâmica e uma interindependência entre todos os seus membros rara de se ver. Cada elemento integra a família, sem abdicar da sua própria forma de ser e de estar. Deveriam ser assim todas as famílias!

O núcleo de ligação era, naturalmente, o Fernando e a Luísa, de quem me tornei amigo e que me privilegiaram com a sua amizade, o que muito me gratificou. Sempre que ia ao Algarve, mesmo que sem tempo para os visitar, ligava sempre ao Fernando. Então prometia-lhe, acreditando mesmo, que para a próxima haveria tempo para um convívio mesmo ao vivo! Só uma vez tal aconteceu, estando o Fernando, a Luísa e a Marta (a Susana estava, creio, para o Brasil), tendo essa noite, com a Isabel Moreira, ficado na nossa memória como dos momentos que valeu a pena viver. Acabámos assim por nos ver mais em Lisboa, sempre com imenso prazer da minha parte naquela amizade familiar, tranquila mas divertida e sempre muito fraterna.

Fossem os espectáculos da Susana o pretexto, fosse o que fosse, havia sempre um enorme prazer em confraternizar com todos. Além do mais, a partir do início de 2018, começou o Jornal do Algarve a publicar as minhas croniquetas que, em princípio, deveriam ser bissemanais mas que, por dificuldades minhas, passaram a ser bem mais mensais.

Sempre que uma ficava pronta, enviava-a ao Fernando que, simpaticamente, me respondia e a dava à estampa. Com o início desta tremenda pandemia, todas as viagens se espaçaram e tornaram raras e com elas, os contactos pessoais directos. Passei a ver todos bastante menos, sempre com aquela ideia de reforçar os contactos, logo que a pandemia o permitisse.

Foi essa terrível pandemia, que muitos teimam estupidamente em negar, que interrompeu esta fraterna amizade com o Fernando Reis. Ficam-me na memória inúmeros convívios, inúmeras conversas, sempre gratificantes e serenas. Resta-me esta grata recordação de uma amizade com um homem bom, invulgar, inteiro e inteligente, que imanava essa força serena das pessoas boas e de bem com a vida. Ocorre-me, não por acaso, um dito de Bertolt Brecht, que estamos habituados a ouvir em espanhol:


«Hay hombres que luchan un día y son buenos. Hay otros que luchan un año y son mejores. Hay quienes luchan muchos años, y son muy buenos. Pero los hay que luchan toda la vida: esos son los imprescindibles»


Tem sido o travo amargo de ter perdido um amigo imprescindível, que me inibiu até hoje de lhe prestar a mais justa das homenagens a um homem que aprendi a admirar! Até sempre, Fernando!

Fernando Pinto

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