Uma centena de arguidos senta-se hoje no banco dos réus num tribunal da localidade espanhola de Marbella, no arranque do maior julgamento por corrupção numa autarquia da história de Espanha.
Juan Antonio Roca é o principal arguido, sendo acusado de vários crimes de corrupção como líder da rede que levou à detenção de vários autarcas e provocou eleições antecipadas na região.
Roca arrisca uma pena de 30 anos de cadeia e multas de até 810 milhões de euros por crimes de corrupção que alegadamente envolveram o desvio de mais de 670 milhões de euros.
A rede de corrupção passou por três alcaides de Marbella, o falecido Jesus Gil, o seu sucessor Julian Muñoz – um dos nomes que ainda hoje marca o jet-set espanhol – e a sucessora deste, Marisol Yague.
Durante 14 anos, Roca controlou tudo no urbanismo de Marbella e com a sua queda arrastou 99 outras pessoas, incluindo dois alcaides e 19 vereadores, além de empresários e nomes sonantes da sociedade de Marbella.
Prevê-se que o julgamento que hoje arranca dure pelo menos um ano.
O caso tornou-se um dos que mais interesse suscitou em Espanha nos últimos anos com as investigações a demonstrar a riqueza que os elementos da rede e, especialmente Roca, acumularam ao longo dos anos.
A investigação baseia-se, numa primeira fase, em documentos do próprio Roca, obtidos pela polícia, e em que este detalhava todas as operações da complexa rede de empresas que geriu todo o esquema de corrupção.
Os documentos chegam a detalhar os subornos a membros da autarquia, os pagamentos a empresários e as ações levadas a cabo para branquear o capital, envolvendo uma rede de 71 empresas.
Estima-se que ao longo da sua operação a rede desviou e branqueou pelo menos 670 milhões de euros.
Por isso Roca chegou a ser um dos homens mais ricos de Espanha, com avião privado, helicóptero e heliporto particular, casas e palácios em todo o país, quintas, hotéis e um picadeiro, além de obras de arte de primeira qualidade.
Um património que incluía 273 quadros assegurados por oito milhões de euros quando o rendimento declarado de Roca e da sua mulher – entre 1994 e 2007 – ascendeu a menos de um milhão de euros.
A rede funcionava, essencialmente, através de negócios com os principais empresários da zona, que compravam terrenos a preços muito abaixo do de mercado ou obtinham licenças em zonas não definidas para construção de habitação.
O resultado foi a construção de mais de 18 mil casas que são, formalmente, ilegais.
AL/JA