Artesão: Cestaria nas Furnazinhas

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No passado dia 18 de maio, o Mestre António Gomes Perez, das Furnazinhas, deu a conhecer a arte de criar cestos a partir de canas da região, um workshop organizado pelo Junta de Freguesia de Odeleite, em Castro Marim.

O artesão das Furnazinhas

António Gomes abriu as portas da sua oficina e mostrou ao Jornal do Algarve como produz os seus cestos. O mestre tem 74 anos e uma vida cheia de histórias para contar, é um apaixonado pela natureza e gosta de aprender muitas artes. Descendente de famílias espanholas de Sanlucar del Guadiana e portuguesas das Furnazinhas, sempre foi muito curioso em pequeno, revelando desde cedo aptidão para trabalhos de artesanato. Esteve na guerra do ultramar em Moçambique onde era padeiro, mas este ofício não o cativava. Em relação à cestaria, António Gomes começou a aprender com os artesãos da terra e desde os 11 anos que cria as suas artes com canas. Num tom de brincadeira o mestre disse que “para aprender teve que partir muita cana”. Mas, durante um tempo deixou de se vender cestos porque apareceram os plásticos e os clientes passaram a usar estes novos produtos. Recentemente começou a haver o interesse pelos cestos, inclusive no estrangeiro. Com as canas pode-se produzir candeeiros, cestos para variados fins e de todos os tamanhos, fruteiras, entre outros. Várias lojas contatam para comprar os cestos, mandam fazer por encomenda enviando fotografias do que pretendem, algumas lojas enviam para clientes no estrangeiro. São mais as encomendas que os cestos, porque é um produto artesanal e segundo o mestre “para fazer um cesto perfeito pode-se levar um dia inteiro”. António gosta de partilhar os seus saberes, por isso, ensina a quem demonstre querer aprender, já deu muitas formações e fica contente quando percebe que a sua arte vai ter continuidade, que consegue formar futuros artesãos e artesãs. António Gomes apresentou a sua arte em dois canais de televisão nacionais (RTP1 e TVI) e já ganhou dois prémios.

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Preparação das canas

Sempre com boa disposição e riso fácil, o Mestre António foi explicando que vai aos canaviais da zona, aos barrancos, junto às ribeiras, por vezes percorre 6 a 7 km para recolher canas com qualidade. Estas têm de ser amarelas e segundo os antigos mestres “para ser boa tem de ter netos”, ou seja, no topo precisa de haver várias canas a crescer. Para preparar a cana retira-se a casca, limpa-se tudo muito bem com uma foice para não cortar o brilho ou vidro. Em seguida, cortam-se os extremos das canas em diagonal junto a um nó e depois corta-se ao meio (racha-se), divide-se uma cana em 4 partes. Limpa-se retirando a “carne” da cana e os nós para poder moldar melhor, corta-se de ambos os lados umas tiras fininhas para “limar” a cana de modo a que esta não corte os dedos. Preparar 10 a 12 canas.

Como fazer o fundo do cesto

Usam-se 4 tiras de cana, dispõe-se em estrela, a qual é denominada por “pente”. Estas canas vão ser as mestras, as que permitem fazer inicialmente o fundo do cesto e depois a parede ou corpo. Juntam-se mais duas tiras de cana para entrelaçar no meio das 4 mestras (com o vidro virado para fora e a carne pa-ra dentro, ou seja, o amarelo para fora e a parte branca para dentro), uma por cima e outra por baixo. Precisa-se de trabalhar com as mãos e com os pés para segurar as canas. Aperta-se bem a tira, para ficar junta e de modo a não partir. Posteriormente, coloca-se mais quatro tiras em estrela, de maneira a que fique corretamente centrada e de modo a criar ao todo uma estrela com 8 tiras. Juntam-se mais canas para produzir o fundo, entrelaçando-as em re-dor das mestras, desta vez, curva-se a cana para fazer um efeito bonito. Em seguida, faz-se a “rodilha”, a pequena saliência que permite com que o cesto fique em pé sem tombar. Colocam-se 3 tiras e entrelaçam-se duas a duas, apertando sempre muito bem, cada tira de cana é cruzada individualmente, a primeira por cima, a segunda por baixo e a terceira por cima novamente.

Criar a parede, asa e debrum

Escolhem-se 3 tiras cortando um bico na ponta para que perfurem mais facilmente a “rodilha”, cravar as 3 com pouca distância e entrelaçar nas mestras, uma a uma até criar a parede (corpo) do cesto. Pode cortar 8 mestras, 4 de cada lado e deixando sem cortar 3 tiras de cada lado com as quais se constrói mais tarde a asa. Quando a parede do cesto estiver finalizada, escolhem-se algumas tiras mestras mais curtas e corta-se ao meio, para em seguida fazer-se um bico, vira-se e perfura-se na parede do cesto junto à tira mestra seguinte.
A asa é feita a partir das 6 tiras mestras que não foram cortadas, faz-se um bico, começa-se pela tira do meio, crava-se no lado oposto, em seguida a tira do meio do lado contrário passa por cima da anterior. Depois uma das tiras do lado direito é enrolada na asa e assim sucessivamente.
Finaliza-se com o “debrum”. Prepara-se outra cana, mas estas tiras têm de ser estaladas, para não se partirem, ficando mais maleáveis e macias. Espeta-se uma extremidade da cana no lado esquerdo da asa e enrola-se nesta até ao fim, seguindo-se pelo topo do cesto. Conclui-se com um segundo “debrum” no lado oposto ao anterior, deve-se cruzar a tira para que o cesto fique mais forte e não se parta tão facilmente.
Para perceber melhor como fazer um cesto, veja o vídeo no site do Jornal do Algarve. Se quiser realmente aprender esta arte poderá ainda assistir ao último workshop de cestaria na oficina do Mestre António Gomes, verifique o dia e a hora no site da Câmara Municipal de Castro Marim e posteriormente, poderá combinar para ter formação.


Carmo Costa

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