Vai Andando Que Estou Chegando

Estamos em breve, porque o tempo passa sem nos darmos conta, a atingir o meio centenário da revolução de 25 de Abril, acção que pôs termo a uma ditadura de mais de 40 anos. Celebramos agora o quadragésimo sétimo aniversário dessa data, que tudo mudou, apesar das habituais deformações e carpideiras do costume, sobre a natureza do regime, saído dessa madrugada, abrindo portas à liberdade, hoje e ainda, ancorado numa Constituição equilibrada e justa, em matéria de liberdades e direitos dos cidadãos. Afasto-me assim de todos os teorizadores que capitaneiam a campanha, da extrema direita xenófoba a um centro direita que em momentos se lhe aproxima, vendo nele sinais de decadência.

Há 47 anos estava no Norte do País, na situação de quadro clandestino, ao serviço do PCP, sob identidade falsa. Entrei na clandestinidade em finais dos anos 60 e aí me mantive até ao 25 de Abril. Era então, como se percebe, bastante jovem. Pelo Norte fiquei cerca de seis anos e meio, a viver com identidade falsa, saltando frequentemente de casa para casa, sem que fosse preso, apesar da intensa actividade que levava, então alargada a todo o centro Norte do País. Formei-me como homem em tão adversas e duríssimas circunstâncias, facto que viria a marcar todo o meu percurso de vida após a revolução até ao presente.

Mas as comemorações de tão importante data foram, na actualidade política, marcadas pela crise que se faz sentir em todo o aparelho judicial, numa justiça na qual ainda não chegou o 25 de Abril. A possibilidade da Operação Marquês voltar ao início, surge como uma pedrada no charco em que nos encontramos. A lentidão em que se move o aparelho do Ministério Público, favorece a suspeição de estarmos perante julgamentos ao serviço de calendários políticos, dada a conexão que têm com uma imprensa àvida de sensacionalismo e julgamentos primários, convocada para estar presente nos momentos que correspondem às acções do Ministério Público. O que a ser verdade, se trataria de um acto gravíssimo, pondo em causa a separação de poderes entre o exercício de funções públicas e as judiciais, consagrado na Constituição da República. Circunstância bem alertada pelo actual Presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, quando da sua posse. Neste quadro estranha-se o silêncio e distanciamento da actual Procuradora, bem como da própria Ministra da Justiça.

Quanto aos Partidos com assento parlamentar parecem agora ter despertado, de supetão, para a necessidade de reformar, actualizar a natureza do sistema jurídico. Já poderiam ter tido oportunidade para tal se fosse essa a sua verdadeira vontade. Esperamos, desesperam os cidadãos, para que tal movimento prossiga a curto prazo.

Por último, voltando à situação de VRSA e ao insólito comunicado publicado no Site da autarquia a 23 de Abril, assinado por “vereadores a tempo inteiro“ ficando-se desde logo sem se saber quem são e qual a hierarquia que entre eles foi estabelecida, texto no qual se propõem, no curto espaço de alguns meses, até às próximas eleições autárquicas, em principio agendadas para finais de Setembro ou inícios de Outubro, realizar uma nova acção política em beneficio do Município, tendo como atractivo e base, a verdade, o rigor, a transparência e a responsabilidade. Palavras que não resistem à interrogação sobre qual foi então o seu papel durante todo este tempo, o que estiveram a fazer tais personagens, a tempo inteiro, na gestão da autarquia, para só agora despertarem para o exercício de uma nova gestão do município.

Todo este texto revela, uma deslealdade completa face à demitida presidente, como se estes vereadores a tempo inteiro, não estivessem presentes em todos os actos praticados pela gestão que agora se aprestam a criticar. O que em rigor evidencia a falta de ética, de moral, somada à incompetência, para assumirem cargos desta responsabilidade. A que ponto chegamos!!!

Carlos Figueira

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