Artistas adaptam-se à pandemia através da Internet

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A pandemia de COVID-19 confinou as pessoas às suas casas, fechou as salas de espetáculos, as discotecas, os bares e cancelou os festivais de verão. À semelhança do que vem acontecendo um pouco por todo o mundo, os artistas do Algarve têm atuado para a população confinada, através de atuações em direto para as redes sociais, aulas online e outras iniciativas criativas, que estão à distância de um clique

Facebook, Instagram ou Youtube têm sido algumas das redes sociais e plataformas mais usadas nas últimas semanas, tanto pelos artistas como pelo público consumidor de arte. Através dessas plataformas digitais, o tempo das pessoas que estão em confinamento tem passado mais rápido, e tem levado sorrisos à cara da população e dos artistas, que querem voltar aos palcos físicos o mais rápido possível.

Atuações em direto, sem a vibração da pista de dança


“Nesta altura há que ser imaginativo e arranjarmos formas de manter a nossa marca no mercado, apesar de estar completamente estagnado”, refere ao JA o DJ André Salgueiro, 40 anos, natural de Faro.


Tal como tem acontecido um pouco em todo o planeta, os artistas têm recorrido às redes sociais para promover o seu trabalho, com atuações em direto e outras iniciativas originais. André Salgueiro revelou ao JA que faz algumas performances em direto para as redes sociais “duas vezes por semana”, além de “algumas conversas e sessões de perguntas e respostas ao vivo”.

André Salgueiro, DJ


O feedback do público na internet “tem sido muito positivo”, mas o artista considera que “não é a mesma coisa”. “Sinto imensa falta dos sorrisos das pessoas, da vibração de uma pista de dança, de ver a alegria nos olhos das pessoas, porque nós vivemos desses momentos”, confessou o DJ ao JÁ, uma vez que agora expressa a sua arte para uma câmara, enquanto que noutros tempos essa atividade era feita para milhares de pessoas que estariam à sua frente, fisicamente.


Uma vez que está em isolamento social em casa, tem também aproveitado o tempo livre para treinar a sua técnica de djing, para aperfeiçoar a sua arte e estar pronto para as suas atuações ao vivo, que ainda não têm data prevista para recomeçar.


O artista farense viu todas as suas atuações marcadas serem canceladas a partir de 10 de março, desde festas, viagens de finalistas e eventos privados. “Infelizmente não vejo o mercado a abrir em breve, uma vez que o nosso setor deve ser a última coisa a voltar a funcionar”, salienta o DJ.


Quando regressar ao ativo, André Salgueiro considera que “não vão ser tempos fáceis”, pois haverá “uma longa caminhada para conquistar a confiança das pessoas, acabar com alguns medos e demonstrar que é seguro frequentar espaços de diversão”.

Ricardo Néné

Cantar dentro de quatro paredes, para a internet

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Ricardo Nené tem 23 anos e é um cantor de Vila Real de Santo António habituado desde pequeno a pisar todo o tipo de palcos. Prestes a começar a sua temporada de verão, viu os seus cerca de uma centena de concertos serem cancelado, e sem data à vista para remarcações.


Em confinamento, apesar de não ter feito atuações em direto para a internet, tem participado na gravação de covers e vídeos com o seu irmão mais novo, amigos e até com músicos que não conhece, “visto que tempo livre não falta” para quem vive da música. O músico participou ainda no projeto online “Quarentena Jam VRSA”, ao lado do guitarrista e colega de banda, Tiago Lopes, na interpretação de alguns covers.


“Temos feito alguns covers, tenho aproveitado para criar alguns originais e aproveitei também para ensaiar e preparar-me para a eventualidade da temporada de verão voltar a arrancar”, revelou o membro da banda algarvia Cookie Monsters ao JA.


A reação dos internautas “tem sido bastante positiva” e Ricardo refere que “as pessoas até agradecem que existam este tipo de vídeos e iniciativas, que são um contributo muito bom”, uma vez que o público gosta “de ver e sentir” que os músicos estão presentes e querem continuar a proporcionar momentos de entretenimento.


No entanto, a diferença entre cantar em casa e num palco é gigante: “Nós podemos fazer os vídeos e podemos cantar em casa, mas todo o artista faz arte para ser mostrada ao mundo, não é para cantar dentro de quatro paredes. Podemos publicar online mas nunca é a mesma coisa do que cantar em frente a um público, com aquele nervosismo que faz parte. É incomparável”, confessa.


Com praticamente todo o planeta em isolamento, Ricardo salienta que “com esta pandemia, temos a prova de que sem a arte e sem os artistas, seria tudo mais aborrecido”, alertando para a falta de importância dada aos mesmos, seja pelo Estado, que lhe recusou apoio, ou à autarquia da sua cidade natal, “cuja ajuda é nula”.

Josué Oliveira, bailarino de Diogo Piçarra

Telescola de dança


Aos 28 anos, Josué Oliveira, natural de Loulé mas residente em Olhão, viu a sua carreira no mundo da dança estagnada. Atualmente em digressão com o farense Diogo Piçarra, juntamente com o seu irmão gémeo, estavam prestes a pisar o maior palco do país, a Altice Arena em Lisboa, quando a pandemia de COVID-19 chegou a Portugal e cancelou todos os espetáculos.


“Foram meses de preparação e adrenalina que simplesmente se adiaram. Confesso que me afetou, pois vivo a vida de artista intensamente, mas o pensamento positivo é a chave”, referiu o bailarino ao JA, acrescentando que a atual tour de Diogo Piçarra encontra-se em stand by.


Além desta atividade profissional, Josué é professor de Dança no Conservatório de Vila Real de Santo António e na escola Outsiders Art & Dance Studios, em Olhão, cujas aulas presenciais foram suspensas.


“Quando se deu a pandemia, inevitavelmente terminámos tudo e ficámos em isolamento total. Apesar de ter contato com os meus alunos, foi difícil manter aulas online”, confessou o jovem artista ao JA, relativamente à sua atividade no Conservatório.


Em relação à Outsiders, o bailarino considera que “o processo foi diferente”, pois já leciona naquela instituição há mais tempo e tem “uma ligação diferente com os alunos”, o que facilitou as aulas online.


No entanto, o artista acredita “que foi a força de vontade de ambas as partes de continuar a lecionar e eles participarem” nas aulas através da internet.


Na página de Instagram da escola Outsiders, muitas são as transmissões em direto para toda a comunidade que têm todos uma coisa em comum: a paixão pela dança. Josué é um dos participantes dessa iniciativa online e considera esta atividade virtual “importante”, porque tem de se “continuar a manter o contacto”.


“Nada se equivale a dar aulas presenciais. A energia não é a mesma. Nos diretos, sinto que estou a falar sozinho, mas é necessário. Tenho muitas saudades das minhas aulas, dos meus alunos e da interação com eles”, confessou o jovem ao JA.


Para o bailarino, esta comunicação virtual e online é importante e necessária, uma vez que “as pessoas precisam de arte”, para não se sentirem sozinhas e o feedback tem sido positivo.


No entanto, conciliar as aulas online com a telescola do Ministério de Educação tem sido complicado, devido aos horários e a carga horária.


“Os professores estão a carregar os alunos com material, têm horários preenchidos e demasiados trabalhos. Então, por mais que estejamos a tentar motivá-los para continuarem com o que gostam de fazer, tem sido difícil arranjar tempo para tudo”, confessou o bailarino algarvio.


“Acho que após esta pandemia, a arte em si vai ser mais valorizada”, salientou o jovem, que considera que esta mudança de um palco físico para um virtual tem sido fácil, uma vez que se adapta “muito rápido às circunstâncias” e os artistas “para serem alguém ou ter algo precisam de ser muito versáteis”.


A COVID-19 veio parar o meio artístico e Josué considera que “a nível profissional, sendo isto uma paixão, o facto de ser adiado dá a entender que perdemos momentos e que se perde o foco”, além de aparecer “a falta de motivação”.

Gonçalo Dourado

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