Avanços na Cimeira da NATO

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Obama propôs aos americanos um recomeço nas relações com a Rússia. Em Lisboa, a NATO seguiu-lhe o exemplo e Moscovo aceitou colaborar no escudo antimíssil euroatlântico e no Afeganistão.

Pedro Cordeiro, na cimeira da NATO/Rede Expresso

Depois de a manhã de ontem se ter centradlo na transição afegã, a cimeira da NATO dedicou-se, durante a tarde, à tarefa histórica de envolver a Rússia, como nunca até hoje, na cooperação face a ameaças à segurança que as duas partes identificam. “Enterrámos os fantasmas do passado. Exorcizámo-los!”, garantiu o secretário-geral da Aliança Atlântica, que nos seus primeiros 40 anos de existência teve como inimigo o Pacto de Varsóvia, liderado pela União Soviética.

Em conferências de imprensa sucessivas, Anders Fogh Rasmussen e os presidentes americano e russo elogiaram o acordo alcançado. Moscovo participará no escudo antimíssil europeu e reforçará a colaboração com a NATO no Afeganistão. “Hoje temos a possibilidade não só de confiar na Rússia como de verificar que Moscovo honra essa confiança”, reconheceu Barack Obama, perante a maior concentração de jornalistas da cimeira. “O período de frieza nas relações acabou”, afirmou, minutos depois, Dmitri Medvedev. “Há até quem fale de união [entre a NATO e a Rússia], o que, sendo algo emocional, reflete o espírito do nosso diálogo”, prosseguiu.

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Rasmussen considerou que mais importante do que a lista de ameaças comuns – terrorismo, narcotráfico, armas de destruição maciça, pirataria, ciberataques – é o facto de a NATO e a Rússia terem deixado de se ver como ameaças mútuas. Em diálogo permanente, enfrentarão os desafios de segurança do século XXI:

Defesa antimíssil cobrirá região euroatlântica

A NATO fez um convite à Rússia, aceite por esta, para cooperar no escudo antimíssil previsto no novo Conceito Estratégico da Aliança, ontem aprovado. Os detalhes concretos dessa parceria ficam para definir no próximo mês de junho, mas Rasmussen adiantou que “partilhando informação será mais fácil conhecermos, a cada instante, o que se passa no espaço aéreo europeu”. “Uma fonte de tensão no passado torna-se uma fonte de cooperação partilhada”, comentou Obama. Medvedev alegrou-se com o acordo conseguido, pois noutras condições a criação de sistemas de defesa antimíssil “poderia perturbar o equilíbrio de forças nucleares vigente” e desencadear “uma nova corrida às armas”.

Colaboração reforçada no Afeganistão

O apoio da Rússia à força internacional que a NATO lidera em solo afegão passará pela abertura de novas rotas de abastecimento. Moscovo já permite que a ISAF transporte equipamento através do seu território, doravante será também possível transportar carga para fora do Afeganistão, através da Rússia.

A cooperação estende-se à luta contra o tráfico de droga. Ao centro de formação nesta área existente nos arredores Moscovo somar-se-á outro em São Petersburgo. Pela primeira vez, e sob a égide da Rússia, o Paquistão será envolvido no combate ao narcotráfico afegão.

Combate à proliferação nuclear

Medvedev disse-se disposto a vigiar, com a NATO, os programas nucleares de países terceiros. Na mente dos aliados está o Irão, com quem Moscovo tem uma relação mais próxima do que os aliados atlânticos. “É natural que as diferenças geográficas influenciem a avaliação das ameaças”, admitiu Rasmussen. Obama preferiu recordar que a Rússia já ajudou a impor sanções ao Irão por desrespeitar os termos do Tratado de Não-proliferação Nuclear. “Seria um erro voltar a desconfiar da Rússia. A Guerra Fria acabou”, frisou. A sustentar esta ideia afirmou que até os países vizinhos da Rússia, historicamente mais céticos de aproximações como a de hoje, são favoráveis a esta tendência. Num caso ou noutro, acrescentou, se alguém tem medo das intenções de Moscovo, ainda terá mais motivos para querer uma aproximação.

É no dossiê nuclear, porém, que reside um dos entraves aos desejos comuns de Obama, Medvedev e Rasmussen. O Senado americano – com legitimidade política reduzida até janeiro, pois houve eleições em novembro – tem resistido, pela mão dos republicanos, em ratificar o novo tratado START de redução de armamento nuclear. O Presidente dos EUA mostrou-se otimista em relação à sessão legislativa de 2011, explicando que a ratificação exige diálogo entre os dois maiores partidos: “Não é neste assunto que se vai marcar pontos para as eleições de 2012”. Rasmussen e Medvedev avisaram que seria “preocupante” atrasar a entrada em vigor do documento.

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