AVARIAS: A boa e a dura realidade

E aí está o futebol para nos devolver o que nos faltava: uma injeção de realidade, da antiga e boa realidade. Há pouca paciência para a distância social e principalmente para o moralismo dos casais que são apanhados a passear na marginal de Matosinhos (Mátosinhos como gostam de lhe chamar) ou de Quarteira (na Quarteira, assim designada nos noticiários a partir de Lisboa) a perorarem sobre como é bom ficar confinado. E depois disto não venham dizer que António Costa não tem olho para o negócio. Será como a época balnear marcada para 6 de Junho, com praias cheias de semáforos e uma fita métrica na mão dos polícias do mar, sem ninguém deitado na areia, quase com máscara dentro de água (seria um invento português) e eis que tudo isto, dois dias depois, dá uma volta de 180 graus (360 nalguns meios) e já se pode ir à praia – com as cautelas para não sacudir areia para os vizinhos do lado, só porque uma mal intencionada onda de calor veio alterar os planos das autoridades. Não se confina com calor. Atenção, que isto sou a eu a pensar alto. Já me tinha despistado: o que quero dizer é que depois de tanto número, percentagens, pódio de regiões com mais mortes e principalmente vozes piegas, cançonetas com pores do sol e imagens de heróis da linha da frente, o que precisamos mesmo é da boa e velha sacanice portuguesa. Sacanice, aliada ao nosso chico espertismo, mais a inveja que nos torna tugas de corpo inteiro. E para isso nada melhor que o futebol. Sempre me pareceu que as imagens dos presidentes dos principais clubes de futebol sentados à mesma mesa cheios de salamaleques – o Luís é servido?, pois tudo bem que o Varandas foi ali à janela para ver de que lado corre o vento – não tinham nada que os sustentasse. Era apenas uma turba que se reconhecia como fazendo parte do tecido empresarial português que, apesar dos BMW 740, que luzem à chegada, andam de calças na mão à espera que alguém – o Estado, as televisões – não lhes tirem a toalha, e com ela os seus proventos milionários. Assim que a bola começar a rolar e os árbitros a fazer das deles, vão disparar (palavra horrível, hoje muito em voga; nunca a usem) os programinhas com os apaniguados dos chamados três grandes a lutarem por 1 cm de fora-de-jogo, mas sempre dizendo que o futebol é um desporto humano, que precisa de recuperar a verdade desportiva. Os jogos vão passar em canal fechado, para atulhar os cafés (sempre com a mais rigorosa distância social entre os telespectadores) e o facto de não existir público nas bancadas não me parece mal, na maior parte dos jogos já não existia, e a única coisa que me faz espécie é como é que os jogadores vão correr três metros sem cuspir para o chão: ou podem?

Fernando Proença

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