AVARIAS: A culpa será da natureza humana?

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Existe uma nova Procuradora Geral da República. Procurou durante seis anos e já era tempo de ir passar umas férias. Eu, que não sou exemplo para ninguém, procuro uma coisa em casa, durante uma tarde e fico cansado. Está certo, não será altura para brincar, mas ninguém é de ferro! Há muitos anos atrás, altura em que as galinhas não tendo dentes, não eram exactamente como são agora, a informação que tínhamos dos jogos políticos era residual: antes do vinte e cinco de Abril, pela própria natureza do regime, depois, por que os tempos eram outros e as motivações das pessoas muito menos complexas que as de hoje. Agora, que estamos na era da informação, sabemos muito, mas na maior parte das vezes ficamos com a ideia que a realidade é bem mais complexa da que nos querem vender, pelo menos quando as notícias são gordas. Significará que quem nos conta o conto não o contará bem, ou pelo menos na totalidade. Sempre existiram órgãos de informação encostados a este ou aquele interesse, mas talvez que a qualidade dos jornalistas fosse superior (e não existiam cursos superiores de jornalismo…), técnica e moralmente. O escritor norte-americano Gay Talese, afirmou em entrevista (a propósito da eleição de Trump), que antes os jornalistas estavam numa posição subalterna em relação ao poder. E agora, que andam nas mesmas universidades que os ricos, desconhecem os verdadeiros problemas das pessoas (daí, para Gay Talese, não perceberem os problemas de muitos dos que resolveram votar em Trump). Nestes tempos, entendemos os jornais e a televisão pensando que o que os norteia é apenas o amor pela verdade, sem olhar a amos e senhores; pela minha parte não estou tão certo que isso seja verdade. Não sei se todos os problemas do actual jornalismo são esses, mas é um contributo (por via indirecta) para o seu conhecimento. E se juntarmos a tudo isso, a nova realidade das chamadas redes sociais, então estamos conversados; nos tempos de ontem tínhamos uma impressão, ou opinião sobre o que se passava, mas tínhamo-la para a mesa do café. Dizíamos o que dizíamos, sem nos preocupar com as consequências, porque a conversa não passava dos semáforos das quatro estradas. Agora expomo-la por escrito e contribuímos para que milhares de nós sejamos confrontados por notícias que não sabemos de onde nos chegam, quais são as fontes, e o seu grau de veracidade. Se somarmos a isso a conversa dos políticos, para quem o que hoje é verdade amanhã é mentira, então temos a mistura explosiva do século vinte e um. Não percebi nada do que se passou com a velha /nova Procuradora da República, mas a cessante tinha afirmado há algum tempo (provavelmente numa altura em que pensava ficar no lugar) que um Procurador Geral da República não deve cumprir mais do que um mandato. Mas isso seria antes de perceber que não era a primeira escolha (e não era?). Parece-me, no entanto, que um tacho como o da Procuradoria não será de desprezar, em qualquer que seja o tempo e circunstância. A menos que esta história continue a estar mal contada.

Fernando Proença

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