AVARIAS: A inveja

Qual é diferença entre a participação da grande parte dos músicos no Natal dos Hospitais (ainda existe?) e os anúncios que existem em todos os WC dos centros comerciais, em que se lê mais ou menos o seguinte: “As nossas torneiras estão preparadas para poupar água. Somos a favor de um melhor ambiente.”? Toda e nenhuma. Toda a diferença porque uma coisa é uma coisa e a outra, outra, isto em termos absolutos. Em termos relativos, as duas situações são faces da mesma moeda, a do oportunismo (também ele sempre relativo). O Natal dos Hospitais é hoje – ou sempre foi – uma forma de aparecer na televisão (e neste mundo da música, cada vez mais não existe quem não aparece), mesmo que todos os músicos que lá estejam, se preocupem o mais que podem, pelo estado de saúde da plateia que está na frente. Já a questão dos quartos de banho é redonda – como um tamanco ó Maria dá-me a escada que eu não chego lá com um banco: ninguém pode dizer que o que fazem é mau ou sequer suficiente. Neste momento tudo o que cheire a poupar, ou é inclusivo, ou faz bem ao ambiente (o meu estimado amigo já fez papel de mau ao aceitar que o terminal de multibanco lhe dê um horroroso papelinho com o comprovativo do seu levantamento? Eles bem perguntam…). Multibanco e casas de banho dos centros comerciais apelam à vossa consciência: de que lado estão? Do lado certo da história História (uma questão moral) ou do outro? Mas o que os move será mesmo esse lado, ou uma descida na conta da água (uma questão económica) e nos rolos de papel? Neste momento uma e outra são unha com carne e longe de nós pormos em causa qualquer destas premissas. Não é possível nem , para muitos, desejável. Quem diz casas de banho dos centros comerciais, Natal dos Hospitais e comprovativos do multibanco pode lembrar Greta Thunberg. A discussão em relação à rapariga está inquinada, exactamente porque há questões que hoje não podem ser lembradas ou sequer referidas como, por exemplo, porque não está uma rapariga daquelas na escola? Ou, porque razão pessoas normais, como eu e você, caro amigo, lhe ouvem ralhetes e ainda por cima lhe batem palmas com um sorriso. Eu, velho trôpego, não sei se me ficaria se a alma em causa me acusasse de atentar contra o ambiente (terei a minha quota parte, como todos nós, incluindo a menina em causa); que fosse ser malcriada com o papá a mamã e o Camões. Ou, se grande parte dos políticos, gente que quer aparecer) e restante prole, em princípio malta que professa – muito suavemente – credos religiosos, por que razão fazem bicha para ir ao beija-mão, transformando uma cachopa de dezasseis anos numa santa, onde só falta construir um santuário (de preferência numa praia de água quente, a pretexto da subida da água e recuo do continente)? Afinal o que ela diz será – em parte – verdade. Temos que ir pondo um travão à nossa loucura gastadora de energia. Agora, fiquem a saber que eu também gostava de fazer uma viagem (à borliu, de preferência) de barco à vela da América até cá. Já percebi, o que eu tenho é inveja.

Fernando Proença

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