Algum tempo depois, e agora para algo completamente igual, lá vem ele como um D. Sebastião que paira sobre nós simples mortais, Pedro Passos Coelho, ele próprio, o grande salvador da pátria. O grande salvador que, um dia, afirmou que os portugueses haviam de ser mais austeros do que a austeridade da própria troika. Pois o grande salvador, que estava guardado para enormes cometimentos (e o habilidoso sabe-o e, por isso, esconde-se para o efeito ser maior), voltou em grande, dizendo raios e coriscos deste governo, da situação e de tudo o que lhe cheire – bem – a alguém viver com o salário reduzido a metade, por ele, em nome de sabe-se lá o quê. Voltou (para completar o ramalhete, falta só que o PS faça marcha atrás, depois de puxar o travão de mão – expressão agora muito em voga – e nos traga de volta o grande artista José Sócrates), numa conferência do grupo CUF, e a pedido de várias famílias (pobres, remediadas, ricas; riscar o que não interessa) perorou sobre como vai mal a política (sem ele, obviamente). As televisões rapidamente o foram ver e ouvir, transmitindo a boa nova aos tugas que, parece, andam necessitados de alguém que tenha pulso e isso é só uma centésima parte da caspa mental que nos deixou o lente de Coimbra, o doutor das botas. Já um cozinheiro bósnio disse o mesmo, “o governo não tem tomates”: precisam-se então dos ditos, mas em redução de champanhe, digo eu. Daqui por uns tempos vai começar a guerra civil interna, dentro do PSD, Rui Rio já sabe (se não sabe, aprende) que está a prazo, e basta que as sondagens não sejam boas – parece que precisa de um milagre para que o sejam – que os malandrecos que se agarram a qualquer líder onde vejam a mínima possibilidade de chegar ao poder, se voltem novamente para o tal D. Sebastiãozinho de algibeira e pacotilha. Façam isso e depois, no mesmo transporte, tragam Vítor Gaspar, outro que devia ter vergonha na cara e nunca mais aparecer. A política, essa teta…
Há uns anos atrás tinha-me revoltado, do alto da cadeira em que me sento a escrever, sobre como não me parecia nada bem, a desproporção entre os deputados, mais os votos recolhidos, por um certo e determinado partido e o peso que os jornais e as televisões lhe concediam. Segundo me lembro, referia-me, à altura, ao CDS na altura governado por esse mago do embuste, Paulo Portas. Quem o ouvia, dizia ser ele o primeiro-ministro, tal a gordura que ressumava do seu paleio. Agora o alvo da minha crítica chama-se André Ventura (sei que, mesmo eu, já me referi mais do que devia à figura em causa, mas ninguém é perfeito). Um gajo que é o único representante na Assembleia da República do seu partido, tem tanta visibilidade como se tivesse dez ou vinte deputados. É aqui, por exemplo, que começa o populismo. Volto à vaca fria: os jornais e as televisões fartam-se de dizer que existem forças que conduzem para o país para o populismo, mas afinal são eles que, em nome do santo share, vão ouvir quem mais populista e perigoso é. Mas esses ditos jornalistas com doutoramentos na área, parecem não perceber. Ou não têm escrúpulos. Ou as duas coisas e isso é muito mau.
Fernando Proença