Outro dia passavam, em canais próximos, dois programas se é que lhes podemos chamar assim, absolutamente surreais ou irreais, ou como lhes queiram chamar. Nos canais de notícias, rendidos ao chamado jogo do título e num ecrã de TV dividido em quatro (já vi em sete), um locutor perorava sobre o que se passava no relvado do estádio da Luz (também o faziam a partir do estádio do Dragão); ao lado uma imagem do público, outra dos treinadores de mãos nos bolsos; outra da comentarista que ia fazendo, como agora se diz, o ponto da situação. Nos canais ao lado a campanha eleitoral para as europeias. Apesar de se saber a enorme importância (estou a vender o peixe pelo preço que mo venderam) de que revestem as eleições para o parlamento europeu havia, e não eram poucos, os que escolheram ouvir o relato dos jogos (via TV) da liga de futebol em vez de se adentrarem nos extraordinários meandros da propaganda política e da entrega de brindes. Eu tinha mais que fazer, mas se tivesse que escolher não optaria por ver o senhor Nuno Melo. A propaganda política, essa, tem sido o habitual nestas coisas e a televisão mostra um bocadinho do que são as arruadas, que é uma palavra horrível, para designar uns gajos com bandeirinhas atrás dos manda-chuva, a oferecer canetas e distribuir beijos. Será que atrás daquele séquito vai alguém que não tenha nada a ganhar com a eleição? Percebo, até certo ponto, que um maduro com interesse em conquistar uma prebenda, uma sinecura, um lugar no aparelho do partido ou numa autarquia, faça o favor de seguir um cortejo daqueles, mas quem é apenas simples simpatizante o que faz atrás de políticos que só se apercebem que existem pessoas fora do seu círculo de interesses, de quatro em quatro anos? Ainda a falar das pessoas que transportam bandeirinhas: o que dizer dos apoiantes dos países que vão à Eurovisão das canções? É um mistério que em Israel exista sempre gente pronta a apoiar a Moldávia. É que as bandeirinhas são mais que muitas e ou estou mal dos olhos, ou cheguei a ver várias bandeiras na posse das mesmas pessoas. Lembro-me e penso que foi durante o mundial de futebol da Coreia/Japão, que os dirigentes da FIFA, resolveram oferecer bandeiras de todos os países para que os coreanos/japonenses os pudessem ir apoiar. Havia a ideia da distância (e já agora o custo da brincadeira) a que estão a Coreia e o Japão dos centros do futebol, e que a distância não seria fácil de percorrer para todos os adeptos. Por isso, muitas das bandeiras que vimos apoiar Portugal (e não houve oportunidade nem motivo para muitos festejos…) eram de coreanos e japoneses nossos putativos adeptos. Não sei porquê mas parece-me que os dirigentes da Eurovisão a sabem toda.
Fernando Proença