AVARIAS: A vida é mesmo assim

O Avarias na sua dimensão social: Vejo no noticiário das treze, que uma portuguesa ajudou a criar (com dinheiro – trinta mil euros – que reuniu, ou se reuniu a partir da sua perseverança), três salas de aula num lugar esconso no interior de Moçambique. Por regra não sou um adepto firme deste tipo de comportamento, penso até que, em geral, as pessoas que a ele são sensíveis (o de contribuir para causas suficientemente afastadas, em termos geográficos), o fazem mais por necessidade de reconhecimento, que por bondade. Preferem os lugares longínquos, porque em geral têm melhor imprensa, e, ao mesmo tempo, escusam de pensar que podem fazer uma asneira escolhendo as pessoas indevidas, ou alguma corporação de bombeiros que terá partido tarde e a más horas, para apagar um incêndio. Ou seja, o que eu, num momento de forma aceitável devia ter defendido, era que a pessoa em causa, com os trinta mil euros disponíveis deveria gastá-los bem gastos, na área dos recentes fogos de Verão. No entanto, depois de ter visto na reportagem da nossa TV, a alegria dos miúdos por estarem a aprender a ler e escrever (e talvez um pouquinho por lá estar a televisão), confesso ter minimamente percebido (já não era sem tempo…), que o dinheiro empregue em três salas de aula em Moçambique valerá sem dúvida nenhuma a despesa com a construção de cinco escolas em Portugal, cheias de alunos sempre entediados e fartos de terem que aprender a ler e escrever com correcção.
No fim-de-semana em que escrevo estas linhas as imagens que estão a dar são a repetição exaustiva dos incidentes na discoteca Urban Beach. Pondo de parte as questões sobre racismo, gostava de perguntar ao professor Marcelo, presidente de todos os portugueses por que razão afirmou, sobre o problema em causa, que “esta agressão está documentada, mas não precisa de ser filmada para dizer que existiu”. Então estamos assim: é o próprio presidente com pê grande, que dizendo que um caso de violência, não depende só das imagens, está subrepticiamente a dizer, não o contrário, mas só um pouco ao lado do contrário. Já não existem testemunhos e testemunhas, palavras e factos, hoje, se não há foto, não existe, ou existe só por um bambúrrio, como o pensou (e disse) um dos nossos mais eminentes juristas. Talvez por isso, as trinta e oito queixas feitas em relação à Urban Beach, que passaram sem consequência, só no decorrer deste ano. Houve gente que se queixou, mas, muito provavelmente foi para o lado onde os responsáveis (polícias, ministério público (?) de deitaram). Se calhar quem manda não frequenta o local, aquilo é longe de onde moram e, para cúmulo, há pouco pessoal, etc etc. Agora são capazes de dizer qualquer coisa que os desresponsabilize, passando, em grande estilo, por entre os pingos da chuva. Até à próxima.

Fernando Proença

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