AVARIAS: Assim já se sabe que existem

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Colaboradora. Designer.

Desculpem o óbvio exagero, mas as mortes de Borba estão para a sociedade portuguesa, como a Taça de Portugal, para os clubes que não se encontram na primeira divisão. Digo mesmo que, para notícias destacadas nos principais jornais e noticiários o melhor seria: depois de uma equipa dos regionais ter sido apurada para as meias-finais da Taça e ter ficado soterrada por debaixo da bancada do seu próprio estádio, sem, no entanto ter morrido alguém (aqui perpassa um certo ar de milagre de Fátima, mas ninguém é perfeito). Tudo isso se passou enquanto esperava para sair no seu autocarro rumo a Lisboa/Porto (riscar o que não interessa), para disputar o encontro da primeira mão da prova rainha, como agora se diz. Apesar do aparato, todos acabariam por escapar com vida, porque a dita equipa se encontrava, ainda, no interior da arrecadação, feita com todo o aço e cimento que sobrou (veio-se a saber posteriormente) da construção da bancada do estádio; obra (obviamente com problemas estruturais) de um pequeno/médio empreiteiro local, não conhecido pela qualidade dos seus produtos. Apesar do aparato, toda a equipa se encontra bem de saúde (sabe-se, porque os telemóveis funcionam), menos o guarda-redes que fez um pequeno corte na mão esquerda. A localidade situa-se no interior do país profundo (que significa mais ou menos a uma hora e meia de Lisboa e Porto) e era uma ilustre desconhecida até aqui. Enquanto esperam que os bombeiros locais, assessorados pelo comando nacional (com Marta Soares, de chapéu na cabeça, a dizer cobras e lagartos do governo) tentem remover o entulho que se encontra por cima da arrecadação, as televisões montam o circo. Os trabalhos vão ter que acelerar porque o tecto pode ruir com o peso, chove e não está substancialmente agradável para os repórteres a quem calhou em sorte (que é uma maneira de dizer) ter que fazer a reportagem. Vão à junta de freguesia saber a opinião do presidente, ao café local para saberem as opiniões do povo sobre o presidente e, com um bocado de sorte, conseguem uma opinião de um qualquer notável da localidade sobre esse povo. A pequena vila, abandonada por uma parte dos seus filhos (que foram para Espanha, Suíça e França) e só visitada pelos netos, que na primeira quinzena de Agosto, aqui acorrem para ver os filhos de Tony Carreira, está a transbordar de vida. Descobrem que se pode fazer escalada e o parapente, que era o devaneio de uns poucos, entra no dicionário mental de muitos. É altura para a vila entrar – para o bem e para o mal – no mapa. Marcelo aparece, os secretários de Estado também, e a equipa contra quem os da vila disputavam o jogo da taça, enviam o capitão e vice capitão para dar a entender a sua preocupação. Os factos são melhores do que se receava, mas os canais televisivos e jornais começam a sua ronda por tempos e resultados, com as opiniões dos diferentes comentadores a paineleiros, sobre, “de quem é a culpa?”. Ao longo das semanas vão aparecer os inúmeros organismos que deveriam ter dado parecer sobre a obra em causa, não o fizeram e que em virtude disso (de serem muitos), a culpa vai morrer divorciada. Divorciada, porque só os ricos é que ficam solteiros mesmo depois de se divorciarem três vezes.

Fernando Proença

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