AVARIAS: Coisas de estação parva

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Colaboradora. Designer.

Em televisão o que se arranja de mais parecido com a política é o futebol: não sei se esta teoria se aplica a todo o mundo, e arredores, mas por cá parece-me muito bem. A questão do hoje ser mentira e amanhã verdade, o resultado acima de tudo, o cascagrossismo generalizado da maioria dos intérpretes; quase tudo os aproxima. Depois temos os comentadores destas duas disciplinas: todos o podem ser e num determinado momento todos o querem ser. Comentadores de futebol e política, cruzam em programas de televisão num afã que só tem igual (não muito igual, mas nestes tempos não se pode ser muito exigente) nos comentadores de fogos florestais. A única questão é que os fogos florestais são sazonais e o futebol e a política dão para todo o ano. No entanto não há – quase – nada que não se arranje. Dizem que é preciso prevenção (Novembro a Março) e rescaldo (Outubro) e está metade do ano ganho, o resto é calor e humidade relativa a vinte por cento. E no futebol, onde é que fala mais e as audiências enlouquecem? Em Julho, no defeso. Por essa ordem de ideias há muito a falar sobre a capacidade da floresta mediterrânica sobrevir aos fogos, mesmo na véspera de Natal, o que talvez não seja má ideia em termos pedagógicos, além de nos livrar dos programas de época como filmes sobre Belém e aventuras na Galileia. Palavra que nunca me apercebi de onde podem sair tantos peritos em fogos florestais. Os canais e notícias podem estar eternamente a chamar técnicos/comentadores para os seus programas, que não repetem convidados. Todos sabem como acabar com os fogos, como fazer a prevenção ao longo do ano, mas sempre de uma forma diferente do outro comentador que está na sua frente. A expressão mais usada anda à volta de, “já se falou muito sobre este problema, mas não me parece que a solução seja essa, nem que a forma de o resolver esteja nesse pé, pelo menos atendendo às alterações climáticas. Lembro-vos que a Protecção Civil… etc. etc”. Todos sabem tudo sobre quase tudo, pena não haver um Mourinho dos fogos, em que aquilo que diz é lei (esteja mal ou bem), não se discute e faz jurisprudência. Era um descanso e um ponto de partida para novas discussões.
Escrevo, enquanto catrapisco com o canto o olho, a caboiada pouco ortodoxa “Indomável” realizada e escrita (em segundas núpcias. O filme é uma versão de um outro realizado há cinquenta anos) pelos irmãos Coen. Os irmãos Coen são uma espécie de Tarantino em versão light. A mesma visão alternativa, mas menos violenta e quiçá menos talentosa. No entanto este filme, duma garota que quer vingar a morte o pai e para isso contrata os serviços de um “marshall” alcoólico e de métodos pouco ortodoxos, é leve (embora com uma ou outra cena mais complicada. Como a de cortar dedos sobre uma mesa), bem-humorado e escorreito. Os actores são bons, a história acompanhável com satisfação e chegando ao fim damos como bem empregue o tempo em que não lemos um bom livro. Parece mentira que tenha sido transmitido pela TVI, durante o mês de Agosto, que habitualmente se pauta pela vulgaridade e mediocridade. Mas foi verdade.

Fernando Proença

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