AVARIAS: Como o tempo passou

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Colaboradora. Designer.

Não vos falo de determinadas plataformas com montes de séries cheias de interesse e essas coisas, mas da televisão, a que é, ainda, a mais vista em Portugal, a do povo, a que vê cinco ou seis canais, ditos generalistas, ou a TV Cabo normal, metade dos canais oferecidos, que ninguém quer, nem dados. Por exemplo, quem tinha (ou quem tem…) o TDT, metade dos dias não via a ponte dum corno, sempre com interferências, que faziam (ou fazem, não tenho notícias frescas sobre esse segmento de mercado) com que os problemas de transmissão, constantes nos primeiros tempos de TV em Portugal, pareçam, ao pé disso (o TDT), brincadeiras de crianças. Mais uma das invenções portuguesas: disse-me um passarinho, que no fundo tudo era uma grande conspiração, para fazer os velhotes que ainda têm televisões antigas, abrirem os cordões à bolsa, jogando-as fora. Uma espécie de papa-reformas em versão digital. Nos canais em que o povo passa o tempo, esse tempo está cada vez mais ocupado por telenovelas e discussões sobre futebol. No entanto gostava aqui, de traçar uma pequena evolução das duas. As novelas correm cada vez mais para uma gloriosa capacidade para se tornarem invisíveis; e por invisíveis quero dizer que, por muito que alguém se esforce não há meio de deixarem uma marca, de alguém dizer que uma é melhor (ou pior) do que outra. As primeiras novelas brasileiras que nos chegaram, transportavam alguma coisa da literatura (que víamos sem notar e sem esforço); havia uma indústria por detrás de tudo aquilo, mas conseguiam fazer parecer que se tratava de simples produção artesanal. Depois, tudo se tornou uma industria desenfreada, sem vergonha de o dizer, e uma indústria significa, que tudo é, cada vez mais igual e no caso vertente, medíocre. Por isso não vão além de histórias infantis ou violentas, que o público já só consegue reagir a estímulos fortes. As primeiras novelas portuguesas eram muito fraquinhas, os actores tinham um registo muito teatral e nos argumentos viam-se as linhas com que as histórias se cosiam, apesar de, em geral, se apresentar o habitual nestas coisas: rico (ou rica), apaixona-se por pobre de quem se vem a saber serem irmãos. O resto era e é, para compor o ramalhete. Hoje, melhoraram muito até se aproximarem das brasileiras, mais por da via descida global do material que nos chega dos brasis, mas melhoraram. As portuguesas têm, no entanto, algumas idiossincrasias: as personagens podem ser pescadores; mineiros; militares da GNR; industriais; detentores de empresas de Olhão; Lisboa; S. Miguel; ou Paredes de Coura, que o modo como falam, a pronúncia, é toda ela dos eixos, Lisboa/Sacavém / Sintra / Cova da Piedade. Além disso, muita atenção para o facto de andar por aí uma data de gente armada: não há novelas portuguesas sem mortes violentas.
Sobre os programas de conversa em redor do futebol, também o tempo passou sobre os primeiros e o caminho (a meu ver) não foi nada bom. Se já seria estúpido uma data de gente andar a ver o mesmo lance trinta vezes para saber se o árbitro julgou bem (e julga quase sempre bem, a favor dos grandes), hoje tudo não passa de uma guerra de barricadas entre gente que se parece odiar, parecendo precisar de armas, advogados e juízes para se manter viva.

Fernando Proença

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