Avarias: Como vão os tempos

O novo grande herói (tinha ficado estancada a lista nos médicos e enfermeiros. Os bombeiros estão em baixa) das televisões é Rui Pinto. Entronizado pelos jornais e jornalistas, está em roda livre e tem palavras de auto-elogio que, nesta altura, pedem meças ao Ventura do Chega. Não sei o que o homem terá feito nem me interessa, só para que fique bem assente que não ponho prego nem estopa no caso. Mas recuso-me a pensar em Rui Pinto (apesar do seu aspecto de querubim de sequeiro), como um vingador do lado do bem contra os malfeitores, quaisquer que eles sejam, isto apesar dos esforços denodados de Ana Gomes que me parece, neste caso, o equivalente político do otário de serviço.

A justiça está cheia de casos destes: para se apanharem os grandes peixes (tubarões e assim), espremem-se os carapaus e as sardinhas (conforme sejam masculinos ou femininos), que para salvarem a pele se chibam, como no mundo da droga e similares. O problema é que tanto os tubarões como os carapaus/sardinhas serão criminosos, embora em graus diferentes. Um passarinho segredou-me que, o senhor Pinto, lá para os lados da Hungria, se preparava para fazer um golpe, com chantagem à mistura. Mas como alguns sabem, somos inocentes até prova em contrário. Heróis, tenho dúvidas.


Irá uma confusão enorme com a história das máscaras. Parece-me que, mais cedo ou mais tarde, vamos todos andar com a cuja dita o dia inteiro, nos espaços fechados, abertos, depois virá a casa, o banho e em qualquer lugar onde exista um ser humano. Não sou um daqueles malucos que organizam manifestações na praça central de Madrid (a propósito: desde quando é que uma manif de duzentas pessoas no centro de Madrid, tem honras de notícia de telejornal em todos os canais de informação portugueses? Onde estão os critérios dos editores?), mas tenho a impressão de que se manejam, com demasiada pressa e pouco rigor, estudos e mais estudos sobre tudo e mais um par de botas.

Penso que com o COVID tem sido um vê se te avias; variadíssimos trabalhos já nos convenceram duma carrada de certezas e, uma semana depois, exactamente do seu contrário. É mais que evidente que o pessoal está razoavelmente em pânico e que bastará alguém dizer que, a partir de uma certa altura, iremos todos andar com três máscaras sobrepostas, para que isso rapidamente se torne uma realidade. É nossa obrigação defender a nossa vida e a dos outros, mas não existe risco zero, nem para quem fique em casa, dentro de um quarto com pressão negativa. Este tempo parece-me muito próximo do que afectou a sociedade americana nos anos cinquenta/sessenta, em que se compravam abrigos anti-nucleares para se instalar no jardim da vivenda. Não desvalorizo a pandemia (estou em idade de risco, tenho uma profissão de risco e até uma camisa às riscas igual às de Elidérico Viegas), mas não percebo o medo absoluto que se vai instalando. Andarmos todos de máscara, mesmo no meio do deserto não nos melhorará a vida.

Fernando Proença

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