Avarias: Culta e adúltera

De segunda a sexta na RTP2, pela dez e dez da noite, passam há anos consecutivos, séries não americanas que, na sua grande parte, são bons momentos de televisão. Já vi material da Islândia, Finlândia, Noruega, Bélgica, Inglaterra e muitas vezes de alguns destes países em simultâneo em co-produção.

Há-de tudo como na farmácia: séries muito boas e assim-assim e só muito raramente fracas, muito fracas, fraquíssimas ou a Anatomia de Grey. Estas séries (uma temporada, duas, três) de seis, sete episódios de cada vez, estão para este mundo do século vinte e um – viciado nas ditas séries – como os filmes europeus (ditos, de autor) para o cinema norte-americano na parte final do século vinte: mais lentas e mais atentas à nossa vidinha.

Se não o estão do ponto de vista intelectual, fazem, pelo menos, as vezes de um cinema lento e amador (ou a fazer as vezes), o que nos tempos que correm pode ser – como se diz agora – uma mais-valia. É verdade que nas séries que envolvem crimes, polícias e ladrões notam-se as diferenças de ritmo, produção e veracidade dos argumentos, mas com o tempo as coisas irão ao sítio, ou não. São muitos anos de saber fazer, que os americanos levam à frente, e isso mais cedo ou mais tarde ressente-se na história.

Mas o restante, o quadro da natureza humana, a leitura que perpassa por baixo do que se vê, vai bastante melhor, graças a Deus ou à experiência acumulada. Nesse particular nada a dizer dos ingleses que são, como todos sabem, excelentes na recriação de ambientes de época e direcção de actores.

Como escrevi atrás, os problemas com o argumento surgem quando a história ganha velocidade e velocidade não é muito a nossa praia.

Vejo a série belga O Dia sobre o assalto a um banco que envolve reféns. As particularidades das pessoas directamente envolvidas vão muito bem, felizmente. Às tantas, parece (pelos soluços nas decisões, pelo caos que é muito real naquelas situações. Pelos pequenos problemas pessoais em que as pessoas se envolvem e que contam muito mais do que se pensa), que aquilo podia ser mesmo real, mas, talvez porque quiseram dar um passo maior do que a perna, aparecem as situações inverosímeis que nos fazem (falo por mim), pensar que alguém perdeu o fio à meada e se desentendeu com a história, talvez porque o que colocam em oito episódios coubesse em quatro.

Também os policiais nórdicos vão fazendo o seu caminho e envolvem-nos com a sua estranheza. Nunca mais vi nada vindo, por exemplo da Islândia, mas tem piada a vida e a morte contadas como eles o fazem. Dá-me frio só de ver aquela gente andar para cá a para lá, sempre em estradas em que não se vê nada que não seja gelo, com uma bomba de gasolina a meio da viagem. Li algures que na Finlândia existem mais armas por mil habitantes que nos Estados Unidos e acabei por pensar que a viver assim, ainda pouco se matam os do norte da Europa.

Fernando Proença

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