AVARIAS: Desculpe Sr. Putin, foi engano!

Fim de tarde de Domingo e num dos canais da FOX, “Deus perdoa…eu não!”, com Bud Spencer e Terence Hill, filme de Giuseppe Colizzi, quase puro western spaghetti. Este sub-género floresceu a partir da apropriação dos filmes de cobóis pelos cineastas italianos que o refundaram, quase como um sucedâneo. O género estava em queda nos Estados Unidos e os italianos viram ali uma hipótese de revitalizar a sua própria indústria. As fitas, de baixo orçamento, eram produzidas nalgumas zonas de Itália, Espanha (semi-deserto de Almeria) e até, segundo fontes bem informadas no norte de África: tudo muito básico tanto na história como nos décor e nunca (fiquei a saber depois de aturados esforços na internet a dar ao dedo) com índios porque o orçamento não comportava gastos suplementares em figurantes. Sérgio Leone, com “O Bom, o Mau e o Vilão”, terá sido a ponta de lança artístico deste movimento, em parte a reboque das bandas sonoras de Ennio Morricone, em parte pela encenação que é alma destes filmes, talvez porque a acção (ou como ela devia ser…) lhes esteja tão afastada. A visão deste cinema remete-nos mais para a ópera (opera buffa) e menos para os filmes de acção. Respeitando as devidas diferenças, diria que o western spaghetti está para os filmes tradicionais de cobóis como os filmes portugueses em relação ao que copiam, a Nouvelle Vague, Bergman, Rossellini e tudo o que cheire a intelectual: perdem velocidade. Os originais dos filmes que os italianos recriam são por eles relantizados, nesse sentido transformados, enquanto os que os tugas adoram e adoptam como modelo já são lentos e excessivamente contemplativos. Só podem dar grandes planos. “Deus perdoa… eu não!”, não será o melhor exemplo, é amador que baste (embora com uma ou outra piada), talvez apenas um mostruário para os socos de Bud Spencer, passando a ideia de Terence Hill ser o Clint Eastwood dos pobrezinhos. Da conveniente distância temporal, vê-se com o agrado com que se ouvem hoje os ABBA ou José Cid; um agrado meio amargo, por estarmos a dispensar o nosso precioso tempo àquele lixo ou (para as almas mais sensíveis) semi-lixo. Esta secção da nossa memória (coboiadas italianas) já teve a conveniente recuperação com uma mostra muito completa, em Cannes, ideia dispensada geralmente aos perdedores, estilo ciclo de cinema do Alto Volta ou de autores islandeses do segundo quartel do século vinte.
Acabo de ver Rui Rio dizer (sem pestanejar nem mostrar qualquer dúvida) que o PSD está a favor do ataque dos norte-americanos. Gosto destas afirmações assim, malta de barba rija. Atenção que dispenso o mesmo tratamento caso se trate deste ou qualquer outro político português (menos Marcelo Rebelo de Sousa). Não é o que se diz mas a forma como e diz: o PSD ser a favor ou contra o ataque a Damasco dá um abalo ao pífaro ao Trump ou ao Putin, que nem lhes digo. Aquela coisa institucional, como se tivessem estado reunidos para expressarem uma posição parece-me demasiadamente de bicos de pés a mostrar a grande importância de que são investidos. Seria de dizer, caso Rio (ou outro político qualquer), estivesse frente a frente com Putin, “ó Dr. Rio diga-lhe agora na cara o que disse outro dia na televisão…”

Fernando Proença

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