Avarias: Dezanove anos depois

Até à próxima barraca (podia escrever, “grande barraca”, mas tenho um grande respeito pelas escalas, mesmo que sejam as minhas escalas) quero escrever-vos sobre a questão da festança do Sporting. O princípio geral destas coisas é o seguinte: se não existem problemas que passem nas televisões e similares, não se dá pelas fragilidades que podem atropelar até os mais bem-intencionados.

Como as vezes em que passamos um sinal vermelho, mas ninguém (polícia, outro automóvel que vem de um verde e nos bate etc.) com responsabilidades dá por isso. Se posso falar em sinal vermelho para o Sporting então posso dizer que, se não tivesse havido as cenas com a polícia e malta ferida a caminho do hospital então tudo estaria, nesta altura, calmo e o ministro Eduardo Cabrita não sentiria as orelhas a arder. Mas conhecendo as coisas como conheço, só um milagre de Fátima antecipado, podia ter evitado a violência que se veio a verificar.

No meio de infindáveis inquéritos, vamos andar uns meses com todos (mas mesmo todos) os envolvidos a empurrar as culpas de um lado para outro, para no fim, como é normal nestas coisas, o culpado, ser (vamos fazer um pouco de especulação) o funcionário da câmara que mostrou o e-mail ao presidente com duas horas de atraso. Na verdade é muito portuguesa esta ideia de que – apesar de tudo – pode ser que nada corra mal.

Primeiro, a festa tinha sido dada como manifestação. Se assim foi, então digam-me quem recebeu o e-mail e o considerou dessa forma, e eu explicar-lhe-ei a verdadeira história do pai Natal e dos glutões do Presto. Depois veio aquela confusão (tem que ser assim, porque, de contrário, podíamos ficar a saber toda a verdade), de quem é que tinha tido a responsabilidade de actuar. A polícia disse que era a Câmara, o presidente a polícia e porventura todos culparão a DGS – ou a deixar a ideia velada disso mesmo. Uma confusão das antigas, com dois ecrãs gigantes – que alguém vai descobrir que não se consegue saber quem os quis lá colocar, e que talvez tenha sido a senhora da limpeza de um dos gabinetes da direcção do Sporting a pensar no caso. Mas, de todas as incidências a que mais me chamou a atenção é que não consigo entender o que fazem uns bons milhares de cidadãos (cidadãos?), que supostamente celebram um título, mas que no fim acabam sempre em confrontos com a polícia, numa espécie de coletes amarelos que nada reivindicam a não ser o direito de atirarem pedras a tudo o que mexe, como automóveis e gente pacífica. Quem são estes grupos? São essas as claques que os clubes apoiam como se não houvesse amanhã? Infelizmente são.

Fernando Proença

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