A respeito do acordo ortográfico último, lembrei-me das imagens passadas pela televisão, do recém-empossado Bolsonaro, em que ele negava ter sido o mentor de notícias falsas, que supostamente terão aparecido nas chamas redes sociais, durante o seu processo de eleição. Era a sua forma de abordar o inglês (não me perguntem como fiz esta relação), dizendo que, não era do lado dele que tinham criado – e agora imaginem, se é que não ouviram, as declarações – as feiquinius, dito na forma que só os brasileiros usam. Ora, o que me pareceu é que estando nós tugas tão longe dos brasileiros na pronúncia (e nalgum do restante tratamento da língua) só uns refutados loucos podiam pensar que, por decreto, iríamos todos falar uma língua homogénea. A estas falsidades, no entanto, ninguém está livre de prestar, voluntária ou involuntariamente, vassalagem. Outro dia escrevi ás (incorrecto) em vez de às (correcto), porque o computador meteu na cabeça que eu me estava a referir ao ás de paus das cartas, logo não detectou o erro. Estes e outros motivos para vossa chacota, farão parte de um repositório de erros e omissões, que irá a jogo numa altura em que me faltar assunto para o meu texto.
Parece que é cada vez mais difícil escapar aos erros e omissões voluntárias. Os jornalistas (ou uma parte deles) reproduzem com enorme facilidade, se não erros pelo menos omissões. Fazem-no por uma série de razões, em que a preguiça brilhará pela sua presença. E como é que nós, vulgares mortais, nos apercebemos disso? Quando a omissão ou o erro toca os nossos interesses e conhecimentos. É o caso do falado, há mais ou menos coisa de mês e meio, de numa escola do Porto ter sido dado um inquérito em determinada escola (penso que se chama Francisco Torrinha), em que, a crianças de dez anos era perguntado, ”sinto-me atraído por homens, mulheres ou ambos?”, que suscitou reclamações dos pais, em minha opinião, carregados de razão. Posta, na altura a pergunta ao ministro, Tiago Brandão Rodrigues terá respondido que não sabia nada do que se passava. Logo o “Expresso” veio a público em tom de censura dizer que era uma pouca vergonha o ministério ao qual preside, não saber o que se passava. Sendo verdade, ou apenas uma forma de ganhar tempo, não tenho a certeza que o jornalista do “Expresso”, não se esteja a armar em justiceiro a qualquer preço. Fazem-se nos milhares de escolas portugueses, muitos mais milhares de inquéritos aos alunos, por parte do director de turma. Muitos, são cópias de um original que a escola dá como bom. Mas nem há, sequer, a obrigação de todos os directores de turma os usarem. Isso, leva-nos a uma progressão geométrica das probabilidades da existência de milhares de hipóteses de questionários. Não precisa ser-se muito inteligente para entender que o Ministério da Educação não tem, humanamente, hipóteses (nem deveria ter, mas isso são contas de outro rosário) de controlar tudo. Pode, e deve-se perguntar onde estará a cabeça dos professores que permitiram aquelas perguntas, não olhando o original, ou pensando que não eram modernos o suficiente se o censurassem. Adiante, a minha questão é que só sabemos a extensão da parvoíce quando nos toca. O que será que terei comentado quanto às greves dos enfermeiros?
Fernando Proença