AVARIAS: Dois pontos

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1 – Há tempos li, num longo artigo de uma das minhas revistas de referência (estrangeira, só para me armar) a menção a um dos factos que mais ocupam as mentes das pessoas, quando não há nada melhor para falar, como futebol ou o estado dos restaurantes que vendem comida de fusão; o inevitável, e sobremaneira discutido enriquecimento ilícito dos políticos. Lia-se lá que, e isso era basicamente o veículo de defesa da tese do articulista, não podíamos só criticar os políticos quando todos (e lá se lia todos), fazemos o mesmo, em situações idênticas (uma espécie de, a ocasião faz o ladrão). Não pretendo aqui elaborar um tratado sobre o passado, presente e futuro da corrupção dos políticos, nem sei se aqueles homens do antigamente, submetidos a idênticas tentações fariam a mesma coisa que fazem agora. O que vou percebendo é que muitos dos políticos, quando em presença de quantias de dinheiro que ultrapassam os quatro/cinco dígitos, começam a ficar nervosos e as notas como que se colam às mãos. A grande questão, sobre essa corrupção e suas franjas (advogados, empresários corrompidos e corrompedores), é que a esses, os que fazem um trabalho público pastoreando os recalcitrantes, os altos e os baixos, a esses, os que nos dizem como devemos viver, deve ser-lhes exigido mais do que ser um de nós, mortais. Não muito mais, dirão os meus amigos, que somos todos humanos. E uma coisa é desviar um milhão de euros, outra aceitar que um amigo lhes pague um almoço. Apesar de todos sabermos que não existem almoços grátis. Nem programas de televisão.
2 – Por falar em programas pagos: No jornal “Público” João Miguel Tavares escreveu um dos seus habituais textos, em que o que parece à primeira vista não o é, completamente ou quase, à segunda. Escreveu ele, que o programa “Supernanny” é indefensável. Mas que os problemas das famílias retratadas não desaparecem só por desligarmos as câmaras de televisão. Ou seja, até à primeira parte, mais coisa menos coisa, escreveu sobre os malefícios do programa, agora descontinuado como se diz por estes dias, por todas as razões e mais algumas. Não sei como se pode defender uma coisa daquelas em que os putos (mesmo podendo ser potenciais perigos para a sociedade), são figuras públicas pelas piores razões, sem perceberem as consequências para o seu futuro. Não sei, exactamente, se hoje será bom ou mau (estamos em tempos muito esquisitos), aparecer na televisão pelas piores razões, mas convém que quem o faça, esteja na posse das faculdades mínimas, que, em princípio, será dada pelo acesso à maioridade. Isso estende-se a outras áreas, como a utilização de crianças em publicidade, novelas ou outros, mas não vou por aí, pelo menos por agora. O que Tavares, no final do seu texto queria dizer era que, depois de tudo, o Estado é o maior culpado da existência de famílias disfuncionais, com pais que se recusam a sê-lo, pela simples razão que não ajuda os pais a quererem ser pais; não percebeu?, eu também não. Virá um dia em que um artigo de João Miguel Tavares não mostre o Estado como fonte de todos os males. Mas vamos ter que esperar muito.

 

Fernando Proença

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