AVARIAS: Duas pequenas questões

Vejo, pelo canto do olho (amigo e leitor mais atento que já me conhece de ginjeira: existem sempre programas e filmes que vejo pelo canto do olho. É uma pedantice – uma das minhas – género, sou muito importante para perder tempo com certas e determinadas coisas. É uma pedantice, mas é a minha pedantice), mais um episódio do Inspetor Max. A série (com várias temporadas e vários cães), continua a passar (parece que havia uma ideia de voltar ao mesmo lugar com outros actores e guiões afinados pelos tempos que correm que, segundo sei, não foi para a frente), na TVI para – como se costuma dizer – deleite de miúdos e graúdos. As razões para que se continue a ver uns episódios que não tem nenhuma das características de um passatempo inteligente são, para mim, meio enigma. Tudo na série é datado, caseiro e muito amador, mas, ao mesmo tempo, deixa perpassar uma candura e uma humildade que não existe hoje por aí aos pontapés. E talvez estejam ali as razões para que, de tempos a tempos, recuperemos este material como retorno ao passado, em jeito de quem procura diamantes vindos do lado B para passar um pano e puxar o lustre. Em níveis diferentes (muito diferentes, note-se), o Inspetor Max está para algumas séries portuguesas de orçamento modesto como os Abba para a música pop: têm e tiveram mais vidas que o que ambicionavam ao princípio, porque se transformaram em material de culto. O grupo sueco, sempre com muito jeito para a canção orelhuda, fácil e visto de um certo sentido, certeira e conotado com o lado demasiado comercial da arte, tem vindo a ser recuperado por gente de todos os quadrantes artísticos, mesmo de quem não se esperava, talvez porque transportem consigo a tal ingenuidade e leveza que hoje, por estranho que pareça – ou não – é um bem escasso. A indústria faz o resto.


Tenho visto (não pelo canto do olho, descubram porquê) umas séries (em variados canais), que andam à volta de espionagem e contra-espionagem. Estas séries andam mais próximo do território dos super-heróis do que se podia esperar. Com os super-heróis vale tudo como nos desenhos animados. Existe uma lógica interna que justifica todas as acções, mortes e acontecimentos. Os mortos não morrem, os vivos podem estar mortos no momento a seguir e, novamente vivos dez minutos depois: espera-se tudo e a única normalidade é não existir nenhum tipo de normalidade. Com a espionagem, quem estava por nós pode não estar; estar até certa altura, ou passar, depois de um tempo de jogar pelos dois lados e isso é o que sabemos. Mas cada vez mais vejo que são os próprios argumentistas que, não contentes com a confusão que armam os seus personagens ainda nos ferram com mais e mais dúvidas, não percebendo se eles também sabem para onde ir. Levamos episódio após episódio a fazer contas de cabeça para perceber o que se passa e não precisamos de ser perfeitos idiotas para chegar ao fim e perguntarmos onde raio se puseram os bons e os maus (sei que me vão dizer que esses universos já deram para o peditório do 007. Por isso muita malta volta ao Inspetor Max). Carregamos dúvidas sobre o próprio argumento, construído e desconstruído, revelando pontas que parecem boas e no fim, se mostram inverosímeis, para, em última instância dizer que os burros somos nós, os espectadores. O único ponto que une tudo e volta a dar é que, com americanos, suecos, ingleses, sírios e iraquianos é todo ao molho e fé em deus e no final, haja o que houver, os maus são sempre os russos. Às vezes não há pachorra.

Fernando Proença

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