AVARIAS: E o calor, escondeu-se?

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Colaboradora. Designer.

Vejo o noticiário da noite (RTP1) que abre com a questão mediática do momento: as crianças tailandesas que – na altura em que escrevo – ainda estão encerradas numa gruta. Nesta altura, quatro estão salvas e, dizem, sãs. Enquanto toda a gente em todo o Mundo reza, pede e anseia pelo salvamento das restantes, vejo subir à televisão malta que, por nunca, lá chegaria pelas melhores razões; mergulhadores e similares. Tenho a impressão que já chegaram ao fim de todos os grupos e associações que trabalham na área em Portugal, desde a marinha até aos mergulhadores do Alviela. Tudo o que vai ao fundo do mar já foi convidado de honra da nossa TV, e a partir de agora, esgotadas as novidades, vão ter que voltar a convidar os primeiros de quem se lembraram para lhes ajudar a encher chouriços dar notícias. E, como no futebol ou nos incêndios do ano passado, todos têm uma palavra a dizer: primeiro saem da gruta os mais fortes e depois os mais fracos, mas o seu contrário também está certo, por que vá lá adivinhar-se o que pensam as autoridades do reino Tailandês. Afinal de contas temos sapadores bombeiros e fuzilais naveiros, tudo gente boa, a substituir os políticos no tempo de antena, agora que viemos embora do Mundial e Cristiano Ronaldo está entre o entrar e sair. Uma espécie daqueles clubes de terceira que recebem o Benfica na Taça de Portugal e nessa altura fica-se a saber onde fica Oleiros, Fundão ou Mértola. À falta de incêndios, que o tempo anda fresco, lá apareceu a Tailândia para salvar a honra do convento.
Tenho estado menos em contacto com os meus inimigos figadais (em modo não literal. De qualquer forma devo dizer-vos que alguns se movem na área do desporto). É Verão, vejo muito menos TV, e a idade propicia que eu esteja muito mais compreensivo, o que, bem vistas as coisas, me devolve ao âmbito de uma melhor compreensão da natureza humana. Sei que os meus amigos devem de estar a dizer que eu, em abono da verdade, devia estar calado e quieto: eles nem sabem quem eu sou, escusava de me aborrecer. Mas é nestas alturas que vem ao de cima o meu carácter uruguaio de grande lutador e guerreiro, principalmente em causas tolas, que não deviam aquecer nem arrefecer. Pois é, em nome de um desses princípios que declaro como melhor comentador do campeonato do Mundo da Rússia, no que respeita às televisões portuguesas, o magnífico e aparentemente tão normal José Nunes. E digo isto, depois de me aborrecer com a transmissão do Croácia – Rússia (comentários de António Tadeia, mas podia dar-se o caso de serem muitos mais…). Durante cento e vinte minutos foi uma sucessão de uma conversa sobre táctica que só não enfastia os surdos. Para estes comentadores, as equipas mudam de desenho táctico de dois em dois minutos: agora é um 4-3-3, cinco minutos depois um 3-5-1-1, para volvidos dois minutos, um 4-4-2, e não se calam em nenhum momento. Para eles, tudo não passa de um jogo de xadrez, em que as peças são marionetas e não jogadores de futebol. Alguém que lhes explique que os esquemas pressupõem movimentações. José Nunes, pelo contrário, é um oásis de inteligência e normalidade neste mundo híper-mental de quem julga o jogo pelos padrões de teóricos convictos. Ainda por cima maus teóricos.

Fernando Proença

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