Avarias: Esperamos tempos perigosos

Como muitos portugueses que andam por aí, também cá o rapaz do Avarias, viu e ouviu as missas que se celebram sempre que a selecção de futebol tem um compromisso (é assim que se diz agora…) num campeonato importante. Uma semana antes começam as celebrações, mas dois dias antes, as televisões andam numa roda viva. Na véspera e antes do jogo, não se vê outra coisa na televisão: entrevistas pelos cafés, restaurantes e o que estiver à mão onde se possa fazer uma entrevista, um pequeno apontamento de reportagem. As perguntas são as da praxe, as respostas as da praxe, Portugal ganha por um, dois, três, quatro a zero.

Com Fernando Santos como treinador há uma novidade: encontramos a resposta que aponta para um empate zero a zero e depois ganhamos nos penalties. Marquemos os golos que marcarmos, faça sol ou chuva, uma coisa não muda na voz do povo, Portugal, seja em que situação for não sofre um golo, um golinho para a amostra. Quem vier morre; a zero. Talvez que seja este um caso para os psiquiatras, psicanalistas ou casas de apostas.


Não sei para que mundo caminhamos, mas caminhamos e não me parece coisa boa: primeiro Cristiano Ronaldo afastou garrafas de uma conhecida marca de refrigerantes. Antes tinham sido as diferenças entre a UEFA e a comunidade LGBT, sobre o estádio do Bayern podia ostentar as cores do universo homossexual e similares. Depois vieram os jogadores muçulmanos que se recusam a falar na presença de garrafas de uma conhecida marca de cerveja. Como não bebem (ou bebem às escondidas, dizem as más línguas), não querem que ninguém beba: o mesmo princípio serve para Cristiano Ronaldo. Ficámos a saber que só come brócolos, frango, arroz e bebe apenas água. Mandasse ele…

É tudo uma história – como se diz agora – complicada, a mistura entre política e futebol. A hipocrisia que preside a todas estas tomadas de posição é se calhar necessária. O que a UEFA faz com uns e outros (o ajoelhar como apoio ao Black Lives Matter é permitido. Espera-se, entretanto, a importação de outros rituais dos Estados Unidos) no princípio dos jogos, mostra perfeitamente que existem dois pesos e duas medidas, quando recusam outros rituais. Mas, quem é que não tem dois ou mais pesos e restantes medidas? A questão do negócio é outra, a UEFA e as empresas não dão ponto sem nó e está muito dinheiro – literalmente – em jogo. O que vejo aqui (com a ascensão atmosférica das identidades) é diferente e mostra o surgir de uma nova frente de fricção, proibições, litígios e conflitos que podíamos bem passar sem eles, isto é o Avarias a falar. E a tudo isso, podemos acrescentar a mais que provável supressão das liberdades. E isso é aterrador.

Fernando Proença

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