AVARIAS: Festa é festa!

A sobre-exposição de imagens, factos, pequenas mentiras e verdades de algibeira tira-nos (às vezes, às vezes…) a capacidade de sermos surpreendidos. Mas existem realidades (às vezes não, mas esqueçamos agora esses pormenores) que nos devolvem uma certa inocência, e neste caso, assunto para um texto. Com o coronavírus e o que anda em seu redor, visionaram-se mais imagens da China e arredores do que em todo o ano anterior e uma ficou-me na memória: a das retroescavadoras (contei quase cinquenta, no terreno) a trabalhar, ao mesmo tempo, na limpeza do terreno para a construção do chamado hospital de campanha de Wuhan. Não viram? Procurem então na net. Vale a pena admirar a coreografia com imagens tiradas do ar, as máquinas a trabalhar ao mesmo tempo, para cá e para lá. E é espantoso o que nos é dado ver, basta que olhemos para a escala e percebamos a ordem de grandeza de tudo aquilo. Uma obra em Portugal, com quatro/cinco retroescavadoras, talvez valha um dezasseis na ordem de grandeza das escolhas do professor Marcelo. Na China será vulgar este nível de proporção (a cidade em causa tem a população de Portugal), mas não com esta dança para os nossos não treinados olhos.

O contrário da informação é não informação ou a contrainformação? Eu não sei, mas podiam perguntar a Lili Caneças que, parecendo que não, ainda tem uma palavra a dizer nestas coisas, adiante… Por exemplo, acho muito bem que, nos noticiários dos canais de informação, exista uma espécie de contador de morte pelo coronavírus (no verão, a contagem pertence ao mundo dos incêndios). Se é um canal de informação, então que informe. Mas há uma parte da minha emoção e um resto do meu cérebro que me diz, que se existe um canal onde aparecem sempre uns tudólogos que nestas alturas declaram, que acima de tudo importa que as pessoas não entrem em pânico, por que razão é que têm sempre o contador de mortes a funcionar? Se pensam que o contante contador de mortes (CCM)não tem influência na atitude de pessoas como eu e você, então não percebo nada da natureza humana e já cá não está quem falou.

Outra coisa que me obstruiu o entendimento foi o carnaval que – salvo erro – a TVI montou em redor do brexit. Faltavam dois dias para os gajos se irem embora do chamado espaço europeu e lá vinha o constante contador dos mortes (CCM) do coronavírus desta vez reciclado em contador de horas, minutos e segundos a convocar-nos para, o que me pareceu ser na altura, uma passagem de ano ou coisa parecida, cheia de bandeirinhas, cornetas e champanhe francês, tudo aos saltos como manda a sapatilha. Gente muito alegre e festiva como se deve esperar, menos para quem faz parte da UE, a menos que sejamos simpatizantes de causas isolacionistas e nacionalismos vários. Tenho dito.

Fernando Proença

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