AVARIAS: Já sei o que vão dizer cá do rapaz…

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Colaboradora. Designer.

Sábado de manhã, ligo a televisão, e em todos os canais mais ou menos generalistas, do ponto de vista da informação, vejo coisas avulsas, mais ou menos descafeínadas. Todos, todos, não, há uma aldeia gaulesa que se recusa a render: chama-se CMTV e passa, em directo, os acontecimentos de Paris, em que milhares de pessoas avariaram, propositadamente, os automóveis e agora descascam na polícia que os queria multar, mesmo estando todos vestido com coletes. Reportagem feita, pareceu-me, com a utilização de telemóvel, com uns comentários muito a propósito, feitos por um dos seus jornalistas que costuma apresentar o noticiário. Aqui apareceu muito mais solto e não com aquela dicção (e pose) usual de quem está a explicar o mundo às criancinhas. A CMTV tem, como todos sabemos uma notória tendência para transmitir notícias em que as facas (e não de sobremesa) são as principais figuras. No entanto, beneficia de um princípio que não será geral, nem sequer identificável em estudos de sociologia jornalística e que reza mais ou menos o seguinte: os projectos (chamemos-lhe assim) que começam cheios de força intelectual, com a erosão dos tempos tendem a relaxar-se e vão paulatinamente descendo os seus padrões de exigência. Custa muito, semana após semana, pensar-se em cada passo que se dá, sobre se o que se faz ou diz, ou o que não devia sobre alguém ou alguma questão. Como a história das equipas campeãs, que só conseguem manter os padrões de exigência à custa de sacrifícios. Não é fácil tentar ganhar todos os jogos: dizê-lo não é fazê-lo. Num certo sentido é o que se passa com a ética, que é difícil de colocar em prática todos os dias, sem uma folga, sem um tempo para se respirar, quando a mãe de um qualquer morto está ali à mão de semear. Por exemplo, os noticiários da SIC, que a certa altura eram uma referência (à portuguesa, não exageremos!), paulatinamente, ano a ano, têm vindo a perder o nível. Antes eram feitos por jornalistas, hoje parecem realizados por aprendizes e comentado por arruaceiros. Dir-me-ão que tudo não passará de exigências de programação, mas talvez sejam essas exigências que conduzem à sua evolução, entendendo-se a palavra no seu sentido mais lato, podendo significar, evoluir para pior. A CMTV que começou muito ligada aos princípios de sangue e tiros, acima de tudo, ou seja, para critérios do “Avarias”, pouco melhor que péssimo, só pode melhorar e vai fazê-lo, mesmo que nunca chegue a ser uma referência no sector. Mais cedo ou mais tarde vão aparecer reportagens bem estruturadas e documentários catitas, com avanços e recuos. É certo que, sempre que existe um acidente grave, com mais do que um morto, toda a respeitabilidade conseguida parece vir abaixo, com entrevistas à boca da urna, de familiares e amigos do morto. No entanto nunca se deve perder a esperança.
Alguém, um dia terá dito mais ou menos o seguinte; putas e casas feias ganham respeitabilidade com a idade. Eu acrescentava: e canais de televisão.

Fernando Proença

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