Avarias: Má língua

Isto sou eu a falar mal: surpreendeu-me que na altura em que uma data de países andasse numa lufa, lufa para apresentar resultados para uma vacina para a COVID 19 em tempo recorde, Portugal o mais que conseguiu apresentar foi uma máscara que elimina o vírus. Não me interpretem mal nem me concedam demasiado crédito, mas sabendo que Portugal não é a Rússia, cheia de artimanhas e pressa nem a generalidade dos países árabes, em que há-de vir o dia em que contribuirão para a ciência com avanços da técnica e, essa data já está marcada no calendário para 30 de Fevereiro de 2036, mas até no Chile ouvi que estavam próximos de uma vacina e por cá, nada. Pode ser uma redonda mentira, mas o que leio todos os dias é sobre a enorme capacidade dos nossos cientistas que depois, contas feitas, não produzem nada especialmente palpável. Dirá um dos meus quatro amigos, que estou redondamente enganado, que este é um tipo de trabalho silenciosos e vagaroso que tem o seu tempo, mas esse mesmo tempo ensina-me que o melhor é não esperar demasiado de nós próprios. A conversa acerca dos cientistas é semelhante à dos jogadores de futebol: quando aparece algum português que dá uns toques na bola, todos os clubes do mundo estão aos seus pés (para a nossa santa imprensa), tamanha capacidade tem o homem, mas o que é certo é que volvidos anos, apenas Ronaldo, com quase quarenta anos, tem lugar numa equipa mundial de topo. Nós somos bons é para as aplicações de telemóvel. Os tugas são capazes de arranjar uma aplicação para praticamente tudo. As grandes ligações entre a massa crítica das universidades e as nossas empresas de ponta (startups em inglês, como manda a sapatilha), fazem, em noventa e cinco por cento dos casos aplicações para telemóvel cujo único interesse se situa em criar condições para estarmos cada vez mais dependentes do mundo digital. Se há uma tragédia, a primeira coisa que se ouve não é a de um gesto de um dos nossos milionários que põe à disposição uma determinada quantia ou que o socorro foi feito em tempo recorde; apenas sabemos que foi criada uma aplicação para telemóvel que permite em tempo real saber o número de feridos, e que Ronaldo ofereceu uma das suas inúmeras camisolas a fim de ser leiloada.

As entrevistas e as peças dos noticiários sobre o estado das nossas praias neste Agosto, roçam o indigente. Entrevistam-se dezenas de pessoas que se choram por estar um número de banhistas no areal muito abaixo do normal e os jornalistas colocam a ênfase, exactamente no estado desértico em que se encontram os nossos areais. Ora, isto quinze dias depois de os mesmos jornalistas e canais de televisão nos terem mimoseado com notícias em que criticavam sistematicamente ingleses e espanhóis por permitirem enchentes nas suas praias. Não se percebe o que querem nem quando o querem. O jornalismo televisivo é parecido àquela anedota em que a senhora, assustada, dizia no dentista: “senhor doutor, não sei o que custa mais, se é ter um filho ou tirar um dente”, respondendo o dentista; “minha senhora, decida-se para se colocar a cadeira na posição exacta”.

Fernando Proença

Deixe um comentário

Exclusivos

Veículos TVDE proibidos de circular na baixa de Albufeira

Paolo Funassi, coordenador da concelhia do partido ADN - Alternativa Democrática Nacional, de Albufeira,...

Algarve comemora em grande os 50 anos do 25 de abril

Para assinalar esta data, os concelhos algarvios prepararam uma programação muito diversificada, destacando-se exposições,...

Professor Horta Correia é referência internacional em Urbanismo e História de Arte

Pedro Pires, técnico superior na Câmara Municipal de Castro Marim e membro do Centro...

O legado do jornal regional que vai além fronteiras

No sábado passado, dia 30 de março, o JORNAL do ALGARVE comemorou o seu...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.