Avarias: Mais do mesmo

Dou por mim a ver programas com comentadores, e programas com comentadores são sempre iguais: acabamos a torcer pelos que têm os nossos pontos de vista. É uma espécie de rede social – onde se debatem e indignam as mais variadas posições perante a COVID ou a venda de flores a retalho – do nosso forno interno, como diria Jorge Jesus. Aliás vi e ouvi, as últimas declarações do treinador do Benfica e fiquei com a sensação de que a doença afecta pulmões, todo o aparelho respiratório mas também, porque não?, a cabeça. JJ está cada vez mais em roda livre, espingardando para todos os lados menos por um, que por acaso é o dele. Ou seja, JJ é uma ilha do esclarecimento desportivo, e não um vencedor de taças das caricas (sic).

Para rematar uma conferência de imprensa, nada melhor do que mostrar os galões, não sei se viram. Dizia eu então, que olhar para os intermináveis programas com comentadores pode resultar em efeitos narcotizantes que, geralmente, não conseguimos contrariar, ficando horas sem sair do mesmo canal. No top estão os covides, o futebol, política, crime e os outros. Nos “outros” já encontrei mesas redondas (termo hoje em desuso, mas exactamente por isso lembro-vos, que não vivo sempre) sobre a Europa, o antigo programa da Fátima Campos Ferreira (sempre maus, tudo ao molho e fé em Deus e todos a dizerem o mesmo de formas diferentes) e os da fundação Francisco Manuel dos Santos, com Carlos Daniel, um bocadinho mais adulto, mas pela minha parte é um peditório a que não voltarei tão cedo. O crime está entregue ao departamento do CMTV e dos programas da manhã, com um tal Hernâni Carvalho que está para o crime como André Ventura para a política, e o crime. Hernâni Carvalho até tem razão em muitas das coisas que diz, mas o apelo do populismo é mais forte e acaba por lhe toldar o pensamento. Os comentadores da política, futebol e da COVID, caracterizam-se, em geral, por fazerem jus ao princípio da qualidade das melancias, que é do só se saber se são boas depois de abertas e provadas. Por este sagrado princípio sabem todos muito, mas só depois das coisas acontecerem.

Com a COVID então tem sido um fartote e, ou as televisões acertam no alvo ou é mesmo assim: a partir de agora vão começar a ser convidados os comentadores que advogam a abertura do comércio, bares e restaurantes. Se comércio, bares e restaurantes estivessem abertos, convidavam os que pensam ser melhor continuar o confinamento. Outro dia vi um apontamento (talvez na TVI, penso que passou em tudo o que é canal), sobre um restaurante que continua a dar jantares e organiza festas, tudo em nome de um putativo apelo à resistência. Parece que enquanto jantam, cantam – vá-se lá saber porquê – o “Grândola Vila Morena”, seguindo certas tendências pouco democráticas do espectro político português. A importância que as televisões dão a esta gente, acaba por mostrar que vale a pena não cumprir a lei; aparecem na televisão, não lhes acontece nada e ainda passam por heróis. Talvez rever alguns critérios informativos não fosse má ideia ou, quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.

Fernando Proença

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