AVARIAS: Mais do mesmo

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Colaboradora. Designer.

Prometo que não me vou armar em defensor do português puro e limpo (posto que em boa verdade não me assenta, por via das minhas deficiências em termos de escrita, tal como são reconhecidas…), mas não gostava mesmo nada de deixar passar em claro a afirmação de um jornalista de um dos nossos canais abertos de televisão. Dizia ele que, após mais um abalo sísmico na Indonésia e já se tendo feito uma contabilização dos mortos, essa mesma estatística ascendia a mais de quatrocentos e trinta. Não me parece correcto o comentário: se quer falar em termos relativos então a fasquia dos “mais de quatrocentos mortos” estaria bem. Para avançar o número, “mais de quatrocentos e trinta mortos” então o “mais” estará a mais. Se, por exemplo, são quatrocentos e trinta e quatro deviam avançá-lo (número absoluto, definitivo ou não). Também sei que adiantar-se o número de vítimas de um acidente poderá ser bom jornalismo, ajuda-nos a situar os dados no baú de informações que temos na nossa cabeça. No entanto há hoje uma obsessão com os números que, não é não que me agrade, mas que perigosamente nos aproxima cada vez mais de meras folhas de excel. Lembro-me sempre que o “Correio da Manhã” teve, em tempos, um top dos incêndios: assim numa tabela apareciam as localidades ou lugares do sinistro, número de operacionais, e meios terrestres e aéreos envolvidos. Depois tudo se esgrimia numa relação de pesos e forças, se bem me lembro. Um meio aéreo valia várias viaturas e assim os fogos subiam e desciam ao longo de dez lugares. O fogo como se tratasse de um campeonato de futebol. E para o CM, com vencedores e tudo!
Escrevo no dia em que volta o calor. O calor são trinta, trinta e tal graus, com direito a abertura de telejornal, entrevistas e comentários dos meteorologistas do IPMA. Se isto não é, como eu tinha escrito no meu artigo anterior, alarmismo, então onde anda o alarmismo? Vem o Inverno e as baixas temperaturas, avisos, entrevistas com transeuntes que dizem ter que vestir um abafo para conseguir viver em Bragança, que contrariamente ao que pensávamos não se situa no litoral algarvio. Vem o Verão e é o que lhes descrevi duas linhas atrás. Antigamente, as notícias sobre o tempo e respectivas previsões não extravasavam os elevadores e demais lugares, onde as conveniências sociais pela aproximação entre duas ou mais pessoas que disso necessitavam, se impunham. Depois, pela melhoria das previsões e pelo desaparecimento de qualquer surpresa que nos condicione, tem-se vindo a tornar o pão nosso de cada dia e hoje já ninguém sai para comprar pão sem saber se chove ou fará sol. Daí a pensar que qualquer temperatura, humidade ou chuva que se espere e que não esteja perfeitamente incluída no que pensamos ser o tempo previsto para aquela data, seja um quebra-cabeças. A seguir entram as redes sociais e é tempo do alarmismo nos aparecer em todo o seu esplendor. Está criado um facto e é tempo de o alimentar.

Fernando Proença

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