AVARIAS: Mais futebol

O que posso dizer sobre a “Grandiosa Enciclopédia do Ludopédio” (Domingos, por volta da hora do almoço, quando dá, RTP 3.

Condução equilibrada e simpática de Carlos Manuel Albuquerque, as participações de Rui Miguel Tovar, João Nuno Coelho e um convidado por programa, pelo menos nos que vi), que não tenha já sido notado em tudo o que é rede social e imprensa?

Muito pouco, provavelmente. Mas vamos lá ver o que se pode arranjar. Como o nome indica, tratam-se de notas enciclopédicas sobre futebol, em Portugal e no estrangeiro (não sei se sobra alguma coisa, mas digam se for esse o caso), juntando pequenas e grandes histórias, factos mais e menos conhecidos e imagens (por exemplo, anos cinquenta do século passado) que estão, há muito, esquecidas. A “Grandiosa Enciclopédia do Ludopédio” despacha-se muito bem porque olha, quase com ingenuidade (que infelizmente não se vs por aí) para as zonas mais esquecidas do futebol e das suas grandes figuras. Além do mais é quase inédita em Portugal na sua composição, pois não traz à lidação os tais representantes dos três grandes (não que os autores não tenham filiação clubística, mas calam-na), o que por si só não destrói qualquer hipótese de vida inteligente à superfície da Terra. Mas é só isto o programa? O que o faz alvo de tantos encómios? Talvez porque – não na estrutura, que não o faz substancialmente diferente de outros que andaram e vão andar por aí – mas na forma como os autores o agarram. Rui Miguel Tovar e principalmente João Nuno Coelho, entram no mundo do passado mais ou menos distante dos clubes e jogadores (mais e menos importantes), com um entusiasmo de gente nova, que não se encontra todos os dias. E fazem-no numa forma, diria, desinteressada, não usando toda a retórica que habitualmente se aloja nos alicerces dos programas sobre futebol: a de falar das paixões clubísticas (nada a opor) como se estivéssemos a falar de um tratado científico sobre estratégia e táctica. Usando a frase do escritor espanhol Javier Marías que traduzo livremente, “O futebol é a recuperação semanal da infância”, posso dizer que, é deste lugar da bancada que eles falam sobre o que gostam. Dos craques que lhes encheram as medidas ao longo dos tempos, dos treinadores e dos clubes. Parecido ao defunto “Liga dos Últimos” (disponível na RTP Memória e de onde nos chega João Nuno Coelho) é, na sua essência diferente: “Liga dos Últimos” era uma visão bem-humorada sobre os mais baixos escalões do nosso futebol, captando sons e imagens do Portugal profundo, mas subterraneamente sempre me pareceu um programa de gente de Lisboa e do Porto armada ao pingarelho, gozando com os pequenos e os pobres. A “Grandiosa Enciclopédia do Ludopédio” está construída na linha da revista alternativa espanhola de futebol, “Panenka”: há um mundo (pior ou melhor. Acho que no futebol, muito melhor) que vai desaparecendo e exista alguém que dê conta disso. Por isso algumas imagens e comentários que lá se fazem, sejam tão inteligentes e comoventes. E bastava isso para que valesse a pena vê-la.

Fernando Proença

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