AVARIAS: Não há má publicidade?

Não tenho o mínimo conhecimento sobre regras de marketing, publicidade e público-alvo, apesar de não perceber por que a razão na publicidade para a classe média (carros e seguros médios. Máquinas de lavar roupa), os homens vestem sempre calça bege e camisa azul clara, sobre t-shirt branca, tudo imaculado. Por isso falo do lugar de Lagardère, sem medir as consequências do meu relativo atrevimento: algum do trabalho que vejo na televisão faz-me pensar que alguma coisa não foi pensada ou não houve dinheiro para fazer melhor. Ou houve a possibilidade de mostrar uma completa novidade e preferiram usar os spots que passam no estrangeiro de fora (como se diz em Olhão), dobrando as falas, e não se pensa mais nisso. Eu sei que a publicidade é, em geral, um lixo; que não se devia pensar nem um minuto na coisa, que esse é o anzol que o capitalismo nos lança, para mal dos nossos pecados e que, de alguma maneira (como o acto de nos levantarmos de manhã, bebermos um copo de vinho tinto, ou de morrermos de morte morrida) faz, quase de certeza, mal ao ambiente. Mas se existe, então podemos debruçar-nos (mas não muito que o corrimão é baixo) sobre ela. Confesso-vos então que para o “Avarias” , há, por vezes, uma publicidade muito bem produzida, detalhada e profissional, mas que no fim me faz esquecer o móbil da sua existência, ou seja: começou, acabou, gostei da ideia, música e trabalho em geral, mas passados dez minutos tenho dificuldades em me lembrar da marca e do produto; se se trata de um automóvel, perfume, lingerie ou telemóvel. É o que se passa por exemplo com o filme sobre uma conhecida operadora móvel, em que dois irmãos desavindos acabam por se encontrar electrónicamente falando, tudo graças aos bons serviços da dita operadora e quiçá, da influência da banda sonora, responsabilidade do excelente Michael Kivanuka (o tema é “Home Again” do não menos maravilhoso primeiro disco – segundo sei – do mesmo nome). O filme é longo e deve custar uma pipa de massa ao passar em horário nobre, mas assim que acaba logo me varre da ideia, sobre o que se trata. A conhecida operadora de que lhes falo, costumava até há cinco, seis anos, tentar cativar os seus clientes com uma dose de humor, por vezes muito ácida e meio louca. Foi a altura em que toda a publicidade que se prezava tinha que incluir uma pitada do tal, muitas vezes vilipendiado, humor. Às vezes nem se percebia bem por quê aquela opção. Agora, as opções são outras. Há um pouco de tudo, muitas vezes amor e humor juntos e ao vivo, mas só humor, não. Mas como na música pop, parece que a idade de ouro dos reclames (era assim que se chamavam), com muita coisa muito fraca, ao lado de grandes ideias, já se foi e não demos por isso. Hoje (tal como na pop), parece que tudo já foi inventado e ficamos a impressão que apenas se recicla velhas ideias, com novas tecnologias. Paciência.

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