AVARIAS: Natal é Natal

Todos sabemos como se constrói uma programação de Natal/fim-de-ano; umas pitadas de “Sozinho em Casa” (sempre interessante e um prazer revê-lo, por ordem de categoria; o original primeiro, depois o segundo e ainda depois o terceiro que é mais fraco mas não completamente menosprezável) em cama de “Imagens do Ano” com um filete de “Circo de Monte Carlo”, já que a malta está em casa a cozer a bebida e a comida, espreitando a televisão só muito de vez em quando e, ainda por cima, pelo canto do olho. Não vou dizer que o melhor seja não fazer grandes ondas, pela simples razão que o melhor é mesmo não fazer qualquer tipo de onda; em equipa que ganha não se mexe. E a equipa que ganha não arrisca nem um bocadinho, passa filmes já experimentados, espectáculos na zona dos coros e da música clássica e variados espectáculos de beneficência. A beneficência é, aliás, o porco do século vinte e um; aproveita-se tudo. Já o disse anteriormente e reafirmo-o. Vi o caso de dois restaurantes que propunham aos seus clientes que trouxessem para a passagem do ano produtos alimentares para um cabaz a fim de ser entregue num certo lugar. O que faz pensar as pessoas que vão gastar cem euros numa ceia de passagem de ano e oferecem um pacote de arroz de um euro? É melhor que nada? Que podem comer e beber à vontade, sem problemas de consciência, porque estão a salvar mais uma vida, por exemplo em África, ou colocam mais um tijolo numa casa em Pedrógão? Será como as casas de banho dos centros comerciais que agora ostentam, exactamente na frente de cada torneira, o aviso de que aquela água que corre como um fio manhoso, é o melhor remédio para contrabalançar os gastos loucos do vulgar cidadão?, tudo isso enquanto o conselho de administração continua a sua saga de receber mais dinheiro por enviar gente para o desemprego? Vamos com calma, que às vezes faço o Avarias andar muito próximo dos propósitos de indignação das redes sociais. O que quero dizer é que estas modernas formas de fazer caridade são simultaneamente fáceis, razoavelmente inócuas, ao mesmo tempo que não deixam margem para críticas. O passatempo perfeito. No meio de tudo isto e com as televisões em velocidade de cruzeiro a TVI (provavelmente como milhares de outros canais e jornais ao redor do Mundo), escolheu Donald Trump como personalidade do ano. Palavra que se me perguntarem sobre a personalidade do ano, a nível internacional, vou ter dificuldades em encontrar alguém que não tivesse sido simultaneamente um palhaço e um ditador (Kim Jonun); um palhaço (D. Trump) ou um palhaço com ideias de ditador (Puigdemont). Penso que estas escolhas deveriam ser mais didácticas (e que problemas tenho com a didáctica…). Por este andar e se a TVI existisse em 1933, Hitler seria a figura mundial do ano. Penso que eles podiam ter feito como os júris daqueles prémios que, há falta de quem o mereça, deviam ter decidido, naquele ano não atribuir o prémio a ninguém. Mas ao mesmo tempo percebo a TVI: penso que não terá transmitido nenhum circo (penso que a SIC e a RTP tiveram o seu exclusivo) e Trump veio mesmo a calhar.

Fernando Proença

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