Avarias: No fundo não mudam muito

Gosto assim-assim de canais de televisão temáticos. Como pior dos cenários podemos apanhar o vício de teclar sempre para lá e não perceber que pode existir todo um outro universo de boas surpresas, sendo este um cenário completamente irreal, mas fica bem dizer estas coisas.

Um dos – canais – que vejo com alguma frequência é, como já devem ter percebido pelos meus textos, o “FOX Crime”. Mas gente morta, detectives, polícias, ladrões e assassinos, quase que fazem o pleno no espectro do cabo generalista: não há canal de séries ou filmes que não organize, a respeito de qualquer coisa que mereça ou não, um pequeno ciclo temático, uma incursão nos meandros do FBI ou na polícia de Nova Iorque. Visto à distância (por exemplo “Crime, Disse Ela” surgiu em 1984 e continua no activo) e observando tendências de uma forma cronológica, é fácil perceber que independentemente dos efeitos especiais, ou dos episódios serem mais ou menos realistas a única coisa que se mantém por inteiro, é que a coisa se complicou ao longo do tempo.

Por exemplo, “Columbo” que apareceu nos idos de oitenta do século passado, começava cada episódio mostrando o crime e quem o praticava e a piada eram as particularidades do protagonista e, consequentemente, a forma pouco ortodoxa como ele chegava ao culpado. Agora, qualquer que seja a proveniência (os nórdicos constroem séries habitualmente muito visitáveis), o argumento dá mais de cinquenta voltas até se chegar a algum lado, de forma a sabermos quem é o culpado no máximo três minutos e meio antes do fim do episódio. Mas, vendo bem, não é pela complexidade que o peixe morde o anzol; há de tudo neste mundo, séries complexas boas e más, simples más e boas. Por exemplo o “CSI” (muito sustentada em excelentes efeitos especiais), que vi, muito atentamente, nas variadas versões que adoptou, não me seduz agora que a voltei a ver.

O meu ponto é o seguinte: por muito complexo que seja o argumento existem pequenas bóias de salvação que se mantêm, por muito complicadas ou simples e antigas que as séries sejam. Por exemplo, o primeiro suspeito a aparecer no episódio nunca é o culpado. Por isso, amigos da complexidade vejam lá se começam a pensar numa outra saída para a coisa.

A outra, é a história do distintivo: só quando um agente entrega o distintivo e a pistola de serviço é que as coisas lhe começam a correr bem, apesar de nos primeiros momentos alguma coisa nos faz desconfiar (só para despistar os crédulos), que as coisas vão dar para o torto.

Outra questão prende-se com a incapacidade para gerir o pessoal. Caso os bandidos estejam ajoujados nalgum lugar manhoso, mas em número capaz de iniciar uma guerra civil, a (o) protagonista irá desalojá-los de lá à força, apenas acompanhado de uma companheira (o), incapaz ela (ele) de acertar num comboio parado, a cinco metros de distância, enquanto na esquadra todos se divertem num jantar de carnaval. E nem falo dos telemóveis e computadores, que trabalham horas a fio sem perder bateria. E que computadores? Umas valentes máquinas cibernéticas que parecem saídas de um filme de ficção científica, cheias de uma coisa que se chama sempre darknet, mas que cede, como cera de vela a derreter, perante a perspicácia do detective metido no caso. O tal que perdeu o distintivo.

Fernando Proença

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